Polícia

Estado prorroga por mais 180 dias afastamento de policial civil de Araçatuba suspeito de favorecer hacker 

“em consideração a gravidade dos fatos imputados ao interessado”, de acordo com publicação no Diário Oficial; Processo Adminstrativo está suspenso, segundo a defesa
Lázaro Jr.
30/10/2025 às 17h20
Imagem: Divulgação/Ilustração Imagem: Divulgação/Ilustração

O Delegado-Geral de Polícia do Estado de São Paulo, Artur Dian, prorrogou por mais 180 dias, o afastamento preventivo de um policial civil de Araçatuba, que atua como agente policial, investigado pela Corregedoria, por suspeita de envolvimento com o hacker Patrick César da Silva Brito, que está na Sérvia.

 

Ele é acusado de fazer fotos de materiais sigilosos apreendidos de investigados, entre eles, alvos da Operação Raio-X, e encaminhar para Patrick cometer supostos crimes de extorsão, que estão em investigação.

 

O afastamento inicial foi publicado em 7 de maio, válido pelo período de 180 dias, prazo que vencerá na próxima semana. A prorrogação foi publicada no Diário Oficial do Estado desta quinta-feira (30), referente a Processo Administrativo Disciplinar.

 

Gravidade

 

De acordo com a publicação, a prorrogação do prazo leva em consideração a gravidade dos fatos imputados a ele, que “revelam periculosidade interna – prejudicial à organização policial e ao comprometimento do serviço público, e periculosidade externa – prejudicial a interesses sociais mais amplos”.

 

A medida também leva em consideração “os danos causados à imagem e credibilidade da Polícia Civil, com desgaste e repercussão negativos não só no meio policial, como perante as outras Instituições Públicas”.

 

Ainda segundo a publicação, a prorrogação do Processo Administrativo Disciplinar visa “garantir os superiores interesses e a moralidade da Administração, o correto desenvolvimento do trabalho de coleta de provas no curso do processo”.

 

Enquanto permanece afastado em função da investigação, o policial civil segue recebendo os valores referentes ao contrato de trabalho dele com o governo do Estado.

 

Caso

 

Conforme já divulgado, esse policial estava lotado no Deinter-10 (Departamento de Polícia Judiciária) de Araçatuba e passou a ser investigado em 2022. Ele era considerado homem de confiança do delegado Carlos Henrique Cotait, que chefiou várias operações de grande repercussão, entre elas, a Raio-X, deflagrada em setembro de 2020.

 

A investigação resultou na condenação de dezenas de pessoas acusadas de participarem de uma organização criminosa, chefiada pelo médico anestesista Cleudson Garcia Montali, especializada no desvio de dinheiro público da Saúde, por meio de organizações sociais.

 

O delegado também foi o responsável pelo inquérito contra Patrick, condenado em agosto deste ano, a 9 anos e 3 meses de prisão, por invasão de dispositivo e extorsão contra o ex-prefeito Dilador Borges e a ex-primeira-dama Deomerce Damasceno.

 

Após a condenação, o hacker divulgou um vídeo colocando em risco o juiz autor da sentença, o que resultou em outro inquérito instaurado recentemente. Um corretor de imóveis acabou preso acusado de ter fornecido as imagens utilizadas nesse vídeo e a mãe de Patrick teve o celular apreendido.

 

Ameaças

 

O hacker viajou para o exterior depois de ter sido liberado após ter sido alvo de mandado de busca, em janeiro de 2021, pois não houve flagrante dos crimes cometidos contra o prefeito e a primeira-dama na época, de acordo com a polícia.

 

Porém, apesar dele ter sido liberado, um inquérito foi instaurado. Em maio de 2022, durante a investigação, a Justiça de Araçatuba decretou a prisão preventiva dele, por suspeita de que continuava comentendo crimes, mas ele não foi encontrado, pois já estava no exterior.

 

Ao tomar conhecimento do mandado de prisão, Patrick passou a mandar mensagens de ameaça e injúria para diversos policiais civis responsáveis pela investigação contra ele.

 

Também passou a divulgar mensagens e vídeos acusando o delegado Cotait de tê-lo contratado para hackear possíveis alvos de investigação, principalmente da Operação Raio-X, que havia sido deflagrada antes de ele passar a ser investigado.

 

Crimes

 

Paralelamente, foi instaurado outro inquérito pela DIG/Deic (Delegacia de Investigações Gerais da Divisão Especializada de Investigações Criminais), para investigar a possível invasão do dispositivo de um detetive particular. Ele havia sido alvo de mandado de busca pela Polícia Civil em outubro de 2021, em investigação por suspeita de extorsão.

 

Esse detetive esteve na redação do Hojemais Araçatuba em novembro de 2022, alegando que teria sido vítima de uma armação da polícia. De acordo com ele, o hacker confessou que havia invadido o celular dele, após supostamente ter se tornado colaborador da Polícia Civil de Araçatuba.

 

O detetive apresentou fotos de um celular com troca de mensagens que seriam entre Patrick e policiais civis, no dia do cumprimento do mandado de busca na casa dele. A reportagem apurou que a Polícia Civil também havia recebido cópias destas mensagens e perícia teria constatado indícios que seriam montagens feitas pelo hacker.

 

Fotos

 

Durante a investigação, foi constatado que não houve invasão de dispositivo, mas que o policial civil que fazia parte da equipe estaria fotografando materiais sigilosos apreendidos de investigados e encaminhando para Patrick, incluindo fotos da identidade e de demais objetos apreendidos com o detetive.

 


A investigação também apontou que o policial teria feito fotos do celular e da senha de acesso ao conteúdo de um celular apreendido de um médico investigado na Operação Raio-X, que passou a ser alvo de extorsão.

 

Patrick chegou a ser preso em dezembro de 2022, passou um ano na prisão na Sérvia e foi colocado em liberdade, enquanto aguardava pedido de asilo naquele País. A Justiça da Sérvia já teria decidido pela extradição dele, que recorreu.

 

Corregedoria

 

Por determinação da Justiça, o inquérito da DIG/Deic que apurou os crimes que teriam sido praticados pelo hacker em conjunto com o agente policial contra o médico investigado na Raio-X foi encaminhado para a Corregedoria Auxiliar de Araçatuba.

 

Os dois foram indiciados por invasão de dispositivo e extorsão contra esse médico, mas como ele residia em Iguape, o caso foi encaminhado para a Justiça de Iguape, que determinou que o inquérito fosse encaminhado à Justiça Federal de Santos.

 

Isso porque houve o entendimento de que o suposto crime teria sido cometido pelo hacker, quando ele já estava em solo internacional. Segundo o que foi apurado pela reportagem, a Justiça Federal de Santos aguarda possível denúncia contra os investigados.

 

Desde então, o policial civil passou a responder o processo administrativo, que foi distribuído livremente para São José dos Campos, resultando no afastamento preventivo, agora prorrogado, por considerar que há indícios de que ele teria praticados os crimes em conjunto com Patrick.

 

Defesa informa que procedimento administrativo contra policial está suspenso

 

A defesa do policial civil de Araçatuba afastado das funções preventivamente, informa que o PAD (Procedimento Administrativo Disciplinar) contra ele está suspenso por determinação da Justiça.

 

Diante dessa suspensão, o advogado Daniel Madeira informa que já esperava pela prorrogação do afastamento preventivo. “A prorrogação não está tendo efeito prático, até porque a Justiça de Araçatuba, no mandado de segurança, já concedeu medida liminar suspendendo o PAD dele”, explica.

 

Ainda de acordo com a defesa, também há um pedido de retorno do policial à atividade, o qual ainda não foi julgado, assim como o PAD, que segue suspenso por força de liminar.

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