Por Cássio Betine
O avanço cauteloso, mas não menos rápido, dos chips cerebrais, ou chips neurais, está ganhando outras frentes. Além da promessa de ajudar pessoas com problemas no sistema nervoso, permitindo uma espécie de reconexão neural para que possam enviar os sinais necessários para os músculos - isso é uma realidade, os estudos permitem avanço também para outras aplicações.
Recentemente o chip cerebral está sendo desenvolvido para criação de visão artificial. O que seria uma espécie de intérprete do mundo exterior diretamente para as áreas de conhecimento do cérebro. É o mesmo processo, uma interface avançada entre o cérebro e dispositivos eletrônicos que utiliza uma série de microfios implantados cirurgicamente, mais finos que um fio de cabelo humano (olha a nanotecnologia aí), o chip capta a atividade neuronal e a transmite para um dispositivo externo.
Este dispositivo decodifica os sinais cerebrais e os converte em comandos que podem ser interpretados por computadores ou outros aparelhos. No caso da visão, os sinais são processados de forma a criar uma representação visual que o cérebro possa entender, permitindo assim uma forma de visão, digamos, bit-byte, algo como pixels por exemplo.
Experimentos iniciais com animais mostraram resultados promissores e os testes em humanos também já estão em andamento. E no estágio atual em que se encontram, já obtiveram resultados surpreendentes. É o caso de Brian Bussard, 56 anos, que perdeu a visão do olho direito aos 17 anos devido a descolamento de retina e em 2016, perdeu a visão do olho esquerdo. Quando ele ouviu sobre os testes, resolveu tentar. Agora, Brian tem 25 pequenos chips instalados no cérebro.
A visão dele não é completa, ele consegue enxergar apenas pontos brancos no formato de pessoas e objetos, o que já facilita muito sua locomoção e permite que toque ou pegue coisas numa sala, por exemplo.
A Universidade Miguel Hernández, da Espanha, também vem trabalhando nisso. Já faz implantes cerebrais para recuperar a visão de pacientes. Quatro pessoas já fizeram o procedimento, em fase de testes. Ainda, o próprio Musk (dono da Neuralink) afirmou, em publicação no X, que a empresa também está desenvolvendo um dispositivo nesse sentido, chamado Blindsight e que já está funcionando em macacos.
É claro que há muitos obstáculos técnicos a serem enfrentados, mas esse é o primeiro passo em direção à visão artificial total, que talvez possa ser tão boa, ou até melhor que a visão natural, afirmam alguns dos cientistas que trabalham nisso.
É bem possível mesmo! Imagine só embarcar todas as tecnologias de potencialização física (como esses neurochips, próteses biônicas etc.) e biotecnologia com a inteligência artificial, que fica cada vez mais sofisticada? Seria um possível metaverso real? Creio que não demora muito tempo para nos surpreendemos com essas inovações disponibilizadas em “prateleiras”.
*Cássio Betine é head do ecossistema regional de startups, coordenador de meetups tecnológicos regionais, coordenador e mentor de Startup Weekend e pilot do Walking Together. Cássio é autor do podcast Drops Tecnológicos
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