Por Jean Oliveira
Tem muita gente que acorda e vai dormir com um choro parado na garganta, que não sai, nem é engolido. Que ri nas fotos, mas tá no limite por dentro. Que vive dizendo “tá tudo bem”, só porque não sabe mais como explicar o que sente. E, principalmente nas cidades do interior, onde todo mundo se conhece, essa dor silenciosa passa batida – como se não existisse sofrimento de verdade por aqui.
Mas não é por ter menos trânsito e mais calmaria que o coração descansa. Aqui também tem alma apertada, pensamento acelerado, noites mal dormidas e dias sem vontade. Só que a gente aprendeu a disfarçar. Engole o choro, toma um café forte, vai trabalhar. E assim vai vivendo.
Ou melhor: vai sobrevivendo.
Muita gente cresceu ouvindo que sentir é fraqueza. Que tristeza é falta de Deus. Que chorar em público é vergonha. E aí os sentimentos foram sendo engolidos: a raiva, o medo, a frustração, a saudade. Tudo guardado. Tudo escondido. Até o corpo começar a gritar por onde pode: no cansaço, na dor nas costas, na insônia, na irritação que explode sem motivo.
Tem quem se cale dentro de casa. Tem quem vá pro bar e esconda a dor atrás da cerveja e da risada. Tem quem finja estar bem o tempo todo, mas sente que tá cada vez mais distante de si mesmo.
A verdade é que falta conversa de verdade. Falta escuta sem julgamento. Falta coragem de dizer: “eu não tô bem”. E quando ninguém fala, a solidão vira rotina. Uma solidão que não tem a ver com estar sozinho — tem a ver com não conseguir ser inteiro nem mesmo quando tá cercado de gente.
Mas aí vem a pergunta: será que, quando alguém tenta falar, a gente escuta? Escuta mesmo. Sem interromper. Sem aconselhar de cara. Sem mudar de assunto porque ficou desconfortável.
Porque ouvir de verdade é raro. Exige presença. Paciência. Vontade de acolher a dor do outro sem tentar consertar. E é por isso que tanta gente se cala: porque já tentou falar e foi ignorada, corrigida, silenciada com um “ah, isso passa” ou um “tem que pensar positivo”. A gente fala pouco porque escuta mal.
Tem hora que dá vontade de sumir. Mas talvez não seja fuga. Talvez seja só o corpo dizendo que não dá mais pra carregar tudo calado.
E antes que isso exploda por dentro, dá pra fazer diferente. Dá pra falar. Dá pra escutar. Dá pra procurar ajuda. Buscar um profissional, como um psicólogo, é sempre um passo importante e necessário.
Porque viver sem falar dói. Mas ser ouvido — e se permitir sentir — pode ser o começo de um recomeço.
Jean Oliveira é jornalista, turismólogo e acadêmico de Psicologia
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