Opinião

Solidão: quando viver sem falar dói

"A verdade é que falta conversa de verdade. Falta escuta sem julgamento. Falta coragem de dizer: 'eu não tô bem'"
Da Redação
05/06/2025 às 16h00
Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Por Jean Oliveira

 

Tem muita gente que acorda e vai dormir com um choro parado na garganta, que não sai, nem é engolido. Que ri nas fotos, mas tá no limite por dentro. Que vive dizendo “tá tudo bem”, só porque não sabe mais como explicar o que sente. E, principalmente nas cidades do interior, onde todo mundo se conhece, essa dor silenciosa passa batida – como se não existisse sofrimento de verdade por aqui.

 

Mas não é por ter menos trânsito e mais calmaria que o coração descansa. Aqui também tem alma apertada, pensamento acelerado, noites mal dormidas e dias sem vontade. Só que a gente aprendeu a disfarçar. Engole o choro, toma um café forte, vai trabalhar. E assim vai vivendo.

 

Ou melhor: vai sobrevivendo.

 

Muita gente cresceu ouvindo que sentir é fraqueza. Que tristeza é falta de Deus. Que chorar em público é vergonha. E aí os sentimentos foram sendo engolidos: a raiva, o medo, a frustração, a saudade. Tudo guardado. Tudo escondido. Até o corpo começar a gritar por onde pode: no cansaço, na dor nas costas, na insônia, na irritação que explode sem motivo.

 

Tem quem se cale dentro de casa. Tem quem vá pro bar e esconda a dor atrás da cerveja e da risada. Tem quem finja estar bem o tempo todo, mas sente que tá cada vez mais distante de si mesmo.

 

A verdade é que falta conversa de verdade. Falta escuta sem julgamento. Falta coragem de dizer: “eu não tô bem”. E quando ninguém fala, a solidão vira rotina. Uma solidão que não tem a ver com estar sozinho — tem a ver com não conseguir ser inteiro nem mesmo quando tá cercado de gente.

 

Mas aí vem a pergunta: será que, quando alguém tenta falar, a gente escuta? Escuta mesmo. Sem interromper. Sem aconselhar de cara. Sem mudar de assunto porque ficou desconfortável.

 

Porque ouvir de verdade é raro. Exige presença. Paciência. Vontade de acolher a dor do outro sem tentar consertar. E é por isso que tanta gente se cala: porque já tentou falar e foi ignorada, corrigida, silenciada com um “ah, isso passa” ou um “tem que pensar positivo”. A gente fala pouco porque escuta mal.

 

Tem hora que dá vontade de sumir. Mas talvez não seja fuga. Talvez seja só o corpo dizendo que não dá mais pra carregar tudo calado.

 

E antes que isso exploda por dentro, dá pra fazer diferente. Dá pra falar. Dá pra escutar. Dá pra procurar ajuda. Buscar um profissional, como um psicólogo, é sempre um passo importante e necessário.

 

Porque viver sem falar dói. Mas ser ouvido — e se permitir sentir — pode ser o começo de um recomeço.


Jean Oliveira é jornalista, turismólogo e acadêmico de Psicologia

 

** Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação

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