Opinião

O impacto da era dos foguetes reaproveitáveis

"Com essa nova dinâmica, a colonização lunar e marciana deixa de ser apenas uma ideia futurista e passa a ser logisticamente viável"
Da Redação
12/10/2025 às 20h18
Imagem: freepik Imagem: freepik

Por Cassio Betine

 

Durante décadas, a exploração espacial foi marcada por um paradoxo tecnológico: foguetes altamente sofisticados que, após um único uso, eram descartados como sucata. Era como construir um avião de bilhões de dólares para um único voo. Essa lógica, embora necessária nos primórdios da corrida espacial, tornou as viagens ao espaço extremamente caras, limitando seu alcance a governos e grandes agências. Mas essa realidade começou a mudar com o surgimento dos foguetes reutilizáveis, e ninguém tem liderado essa revolução com mais ousadia do que a SpaceX.

 

No próximo dia 13 de outubro de 2025, a SpaceX realizará o 11º voo de teste do Starship, o maior e mais poderoso foguete já construído. Este teste é especialmente aguardado por marcar o fim da versão 2 do veículo, abrindo caminho para a próxima geração. O foco será a melhoria do sistema de pouso do propulsor Super Heavy, que utilizará uma nova configuração de ignição com 13 motores Raptor, reduzindo gradualmente para cinco e depois três. O objetivo é garantir maior precisão e segurança durante o retorno à Terra.

 

Além disso, o estágio superior da nave — chamado simplesmente de Ship — será testado em condições extremas, com a implantação de oito protótipos de satélites Starlink e uma manobra de reentrada dinâmica no Oceano Índico. Esses testes são cruciais para validar o conceito de reutilização total: tanto o propulsor quanto a nave devem retornar e ser reaproveitados em futuras missões.

 

Isso pode não parecer lá tão grande coisa, mas tem implicações profundas, pois permite que satélites sejam lançados sob demanda, acelerando a conectividade global. Além disso, missões científicas ganham agilidade para explorar novos destinos com maior frequência. A redução de custos e o aumento da acessibilidade também abrem espaço para que empresas privadas e até universidades participem da corrida espacial. Com essa nova dinâmica, a colonização lunar e marciana deixa de ser apenas uma ideia futurista e passa a ser logisticamente viável.

 

A SpaceX já demonstrou essa agilidade com o Falcon 9, que pousa verticalmente e já foi reutilizado dezenas de vezes. O Starship, porém, é o próximo salto: um veículo totalmente reutilizável, capaz de transportar 100 toneladas de carga e até 100 passageiros para destinos como a Lua e Marte.

 

O grande lance é o seguinte. Se a curva dessa inovação continuar nesse ritmo, o cenário daqui a meio século será radicalmente diferente. Em 2075, por exemplo, pode ser bem provável que os foguetes sejam autônomos, operando com inteligência artificial capaz de realizar ajustes em tempo real. As bases de lançamento poderão estar espalhadas pelo mundo — e até fora dele, como na Lua —, enquanto a reutilização de veículos espaciais poderia ser tão comum quanto abastecer um avião. Missões interplanetárias poderão se tornar rotineiras, com voos semanais para estações em órbita ou colônias lunares. 

 

Agora, imagina lá por 2125? A humanidade poderá estar vivendo uma nova era, com elevadores espaciais conectando a Terra à órbita baixa, propulsão nuclear ou de fusão permitindo viagens a Júpiter ou Saturno em questão de semanas, fábricas orbitais produzindo materiais em gravidade zero e o turismo espacial acessível, com hotéis em órbita e cruzeiros interplanetários fazendo parte do cotidiano.

 

Mais do que somente tecnologia, esses foguetes reutilizáveis podem representar uma mudança de mentalidade. Eles nos convidam a pensar não apenas fora da caixa, mas sim pensar muito, muito além, a imaginar por exemplo um mundo onde o espaço não é um limite, mas uma extensão natural da nossa presença. A SpaceX, com seus testes audaciosos e visão de longo prazo, está pavimentando esse caminho agora.

 

No futuro, olhar para o céu talvez não seja apenas contemplar estrelas, mas acompanhar o tráfego de naves, satélites e talvez até famílias em viagem para suas novas casas fora da Terra. A era dos foguetes descartáveis está chegando ao fim, e com ela, nasce uma nova era — a era da humanidade multiplanetária. Talvez muitos de nós não estejamos aqui para ver, mas, segundo alguns futurólogos, o ser humano que viverá 800 anos, já nasceu (veja também o artigo sobre isso).

 

Cassio Betine: Pós-graduado em Tecnologias da Aprendizagem, Bacharel em Artes e Desenho Industrial. Coordenador e Mentor de Negócios e Eventos. Autor de livros, artigos e produtor de conteúdos diários sobre Tecnologia, Inovação e Comportamento. É empreendedor em outros negócios e fundador da F7Digitall.com – Tecnologia & Comunicação.

 

**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação

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