Por Adelmo Pinho
O filósofo Sócrates dizia que “não pode dar à luz uma mulher que não esteja grávida”. Ele se referia à impossibilidade de certas pessoas em compreender – que é mais do que entender – coisas e questionar a origem delas. A sabedoria nasce de inquietação, de um incômodo interior ínsito ou genuíno, em querer saber o porquê de tudo.
Sócrates transmitia que não se pode ensinar sobre aquilo que não exista dentro da pessoa, ou seja, não é possível extrair conhecimento de alguém que não esteja “grávido” dele (conhecimento). Torna-se infrutífero, a exemplo, tentar convencer alguém que tenha ideias fixas sobre determinado assunto, ante a sua limitação cognitiva.
A sabedoria não pode ser imposta ou forçosa; deve ser natural ou espontânea. Sabedoria é, certamente, diferente de cultura. Perde tempo, assim, quem tenta mostrar “verdades” a quem se finge de surdo, ou a quem não tenha capacidade cognitiva em compreendê-las. As ideias podem ser “paridas” somente de pessoas que as tenham. “Pé de jaca não dá manga”.
Pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França de 2020 afirma que, pela primeira vez na história – desde os homens da caverna -, jovens não são mais inteligentes que os pais. Segundo essa pesquisa, nesta atual geração, a subordinação e dependência de jovens à tecnologia possui relação direta com esse fenômeno.
O jovem hodierno se porta de maneira passiva e não mais se estimula em aprender ou buscar conhecimento. Quer-se o “prato pronto”, ou seja, aquilo que já está criado e descoberto, seja bom ou ruim, certo ou errado. Futilidades são assuntos que dominam as redes sociais; pensar dá trabalho; a inteligência artificial (IA) é mais usada do que a natural (humana).
Com isso, segundo a ciência, a geração contemporânea emburreceu. Como haverá progresso à humanidade, sem invenções, boas ideias ou esforço? Penso que o maior crime de uma sociedade é a deseducação. Esta possui relação direta com conhecimento.
Percebe-se, nesse preocupante contexto, que a ausência/deficiência de política pública voltada à efetiva educação (ensino) fomenta essa inação de jovens em buscar novos desafios e conhecimento. Isso, em parte (a família também tem que fazer mea-culpa), é culpa de um Estado irresponsável e conivente com a deseducação.
Com isso, o emburrecimento torna-se a tônica ou resultado dessa atual “acefalia cognitiva”. Quando uma sociedade deixa de ter propósito ou destino certo, qualquer caminho serve. Se o jovem de hoje não for estimulado a ler, a escrever e a pensar, será o “asno intelectual” do amanhã.
*Adelmo Pinho é articulista, cronista e membro da Academia de Letras de Penápolis e da Academia Araçatubense de Letras
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