Por Jean Oliveira
Tem gente que vive só. E tem gente que vive só mesmo morando com alguém. A solidão nem sempre é sobre estar isolado. Às vezes, ela acontece no meio da sala, com a TV ligada, risos ao fundo e um copo de café pela metade. É a solidão acompanhada — aquela que não se vê, mas se sente no corpo.
E, para fugir desse desconforto, muitas rotas de escape são escolhidas. Há quem prefira música alta o tempo todo para não ouvir os próprios pensamentos. Outros se entorpecem com bebidas e drogas (lícitas ou não) pra dar conta da angústia. Tem também quem desvia a atenção pra política, futebol ou religião — não só pra se sentir parte de algo, mas pra ter alguém pra culpar. Odiar também é uma muleta. Uma forma de escapar do mal-estar. Acredite.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, uma em cada seis pessoas no mundo foi afetada pela solidão na última década. Isso dá mais de um bilhão de pessoas atravessando os dias com uma sensação cravada no peito: a de que ninguém as vê de verdade. Isso adoece. Aumenta o risco de depressão, ansiedade, doenças cardíacas e morte precoce. E o pior: ninguém acha que é motivo pra parar. Afinal, "está tudo bem", não é?
Mas não está. A dor emocional pode doer tanto quanto um corte ou uma pancada. A ciência já mostrou que o cérebro reage a uma rejeição ou a uma perda como se tivesse levado um soco. Naomi Eisenberger, pesquisadora da Universidade da Califórnia, comprovou isso em laboratório. E muita gente já comprovou na vida real. Um fim de relacionamento, uma demissão, a morte de alguém querido, o afastamento de um grupo. Tudo isso é luto. E luto não é só sobre morrer — é sobre perder.
O problema é que a gente aprendeu a engolir o choro. A seguir em frente. A não atrapalhar. Mas emoções que não são sentidas se acumulam. Viram tristeza crônica, cansaço sem explicação, estouram nas costas ou no estômago. Ou se camuflam atrás de sorrisos automáticos e piadas forçadas.
A boa notícia? Há caminhos. E tudo começa quando a gente aceita sentir, sem vergonha. Quando compartilha. Quando entende que não precisa dar conta de tudo. Que está tudo bem pedir ajuda. Que ninguém precisa atravessar a tempestade de peito aberto fingindo que é brisa.
O tempo ajuda, sim. Mas só quando a gente se permite viver o que sente. Só quando transforma a dor em palavra. Só quando entende que, por mais solitária que a dor pareça, ela é parte da condição humana — e, por isso mesmo, merece escuta.
Se você está se sentindo sozinho, mesmo rodeado de gente, talvez só esteja precisando de uma coisa: nomear o que sente e encontrar um lugar seguro pra falar sobre isso. Nisso, a terapia pode ajudar. E isso, por mais simples que pareça, pode ser o começo de um novo jeito de conviver com a dor sentida.
Jean Oliveira é jornalista, turismólogo e acadêmico de Psicologia
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