Por Adelmo Pinho
Viralizou em redes sociais, rádios e na grande mídia, a canção intitulada “Descer Pra BC”. Há informação da imprensa, inclusive, que depois do lançamento dessa música, aumentou o número de turistas no Balneário de Camboriú (SC), vulgo “BC”.
Nada contra o ritmo e a melodia da música, ou ao belo Balneário. A letra da canção, porém, afronta à moral e ao feminino. O seu refrão é de um mal gosto à toda prova: “Nós vai descer, vai descer Descer lá pra BC no finalzin do ano Os bombonzin tão brozeando pra eu chegar e morder Nós vai descer, vai descer Descer lá pra BC no finalzin do ano Os Cowboy vai litorando e vai torar você, eh eh”.
Nesse refrão, a gramática foi ofendida quanto à conjugação de verbos, acentuações e pela construção de palavras desconhecidas da língua portuguesa (não se trata de neologismo ou dialeto). Mas, o mal maior não está na violação ao vernáculo.
Explico. Músicas como, “Seduzir”, de Djavan, “Sensual”, de Belchior, “Fogo E Paixão”, de Wando, ou “Banho De Espuma”, de Rita Lee e Roberto de Carvalho, abordaram temas como, “amor”, “paixão” e “sensualidade” usando de inteligência, sem ultrapassar a fronteira da decência.
Música é uma forma de expressão de arte; faz bem aos ouvidos e à alma, quando transmite algo de bom. Mas, e a música “Descer pra BC”, atende a essa finalidade? O ser humano, em especial a mulher, merece respeito. Esse é o cerne da questão!
O corpo e a intimidade de cada ser humano são sagrados. Não é dado a ninguém o direito de morder ou “torar” (verbo transitivo direto que significa fazer em pedaços, cortar ou decepar) a outrem, quiçá musicalmente idealizar ou fomentar coletivamente algo nesse sentido.
No Brasil, o aumento da violência contra a mulher – feminicídios e abusos sexuais – é alarmante. A letra dessa música traduz-se num viés machista. E mais: ao contrário do que ela transmite em outra estrofe, gente da zona rural costuma ser respeitosa e ordeira; descendo ou não ao litoral, não sofre alteração (ou transtorno) na personalidade pela mudança geográfica (descer ao Balneário) para virar “lobo mau” e morder ou “torar” pessoas.
Essa música, assim, cultua o despudor e ofende o feminino. Enfim, para a convivência em sociedade é necessário o mínimo de respeito e decência. Caso contrário, Sodoma e Gomorra vão ressurgir sob aplausos de ignorantes e despudorados.
*Adelmo Pinho é articulista, cronista e membro da Academia de Letras de Penápolis e da Academia Araçatubense de Letras
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