Opinião

A revolução das próteses: da madeira ao pensamento

"A evolução das próteses é mais do que uma conquista tecnológica. É um testemunho da capacidade humana de transformar limitações em possibilidades"
Da Redação
31/08/2025 às 07h16
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Por Cassio Betine

 

A história das próteses é uma fascinante jornada de engenhosidade humana, marcada por avanços que transformaram vidas ao longo dos séculos. Desde os tempos antigos, quando guerreiros mutilados buscavam formas rudimentares de recuperar mobilidade, até os dias atuais, em que membros artificiais podem ser controlados pelo pensamento, a evolução das próteses reflete não apenas o progresso da ciência e da engenharia, mas também a profunda empatia da sociedade em busca de soluções para sua amplitude e qualidade de vida.

 

As primeiras próteses conhecidas datam de cerca de 3.000 a.C., isso mesmo, é bem antigo o negócio! Um dedo do pé de madeira encontrado em uma múmia egípcia é prova disso. Mesmo naquela época, já se percebia uma preocupação com funcionalidade e estética. Durante a Idade Média, próteses feitas de ferro ou madeira tinham como objetivo principal restaurar a aparência ou permitir que cavaleiros amputados segurassem escudos, ainda que sem qualquer mobilidade real. Foi no século XVI que o cirurgião francês Ambroise Paré introduziu articulações móveis em membros artificiais, inaugurando uma nova era de próteses mecânicas com alguma funcionalidade — bem bizarro para os dias de hoje, diga-se de passagem.

 

Decorrente das guerras mundiais, a necessidade de reabilitar soldados impulsionou o desenvolvimento de próteses mais eficazes. Nos anos 1960, surgiram as próteses mioelétricas, capazes de captar sinais elétricos dos músculos remanescentes para movimentar o membro artificial. Essa tecnologia representou um divisor de águas, permitindo movimentos mais naturais e personalizados, e permanece em uso até hoje.

 

Nas últimas duas décadas, a engenharia biomédica deu um salto impressionante. Próteses biônicas modernas são equipadas com sensores, atuadores e microprocessadores que simulam com precisão os movimentos humanos. Empresas como Össur e Open Bionics desenvolveram membros que se adaptam ao terreno, à velocidade e à força necessária, oferecendo aos usuários uma liberdade inédita. Um exemplo emblemático é o braço biônico LUKE (Life Under Kinetic Evolution), criado com apoio da DARPA, que permite movimentos delicados como segurar um ovo sem quebrá-lo. A integração com sensores mioelétricos e feedback tátil aproxima cada vez mais a experiência da prótese à de um membro natural.

 

A inovação mais recente e promissora é a prótese osteointegrada com controle neural. Nesse modelo, o implante é fixado diretamente ao osso, eliminando o uso de encaixes desconfortáveis. Além disso, eletrodos conectam-se aos nervos e músculos, permitindo que o cérebro controle o membro artificial como faria com um natural. Pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Chalmers, na Suécia, demonstraram que pacientes com esse tipo de prótese conseguem realizar tarefas complexas com precisão e até sentir sensações táteis. Segundo estudo publicado na Science Translational Medicine em 2020, essa tecnologia melhora não apenas a funcionalidade, mas também a qualidade de vida e a percepção corporal dos usuários.

 

Olhando para o futuro, é possível imaginar que, em 30 anos, próteses estarão completamente integradas ao sistema nervoso central, com feedback sensorial em tempo real e aprendizado adaptativo por inteligência artificial. Em 60 anos, talvez vejamos membros artificiais superiores aos naturais em força, resistência e precisão, levantando até questões éticas sobre aprimoramento humano. Com o avanço da bioimpressão 3D, da engenharia de tecidos e das inteligências artificiais, próteses poderão ser parcialmente orgânicas, cultivadas com células do próprio paciente, reduzindo rejeições e promovendo regeneração.

 

A evolução das próteses é mais do que uma conquista tecnológica. É um testemunho da capacidade humana de transformar limitações em possibilidades. E se hoje já é possível controlar um braço robótico com o pensamento, o amanhã promete uma fusão ainda mais íntima entre corpo, mente e máquina — uma verdadeira revolução na forma como entendemos o que é ser humano.

 

Fontes como Science Translational Medicine, os projetos da DARPA, e os avanços das empresas Össur e Open Bionics ajudam a traçar esse tipo de panorama. A cada inovação, não apenas restauramos movimentos, mas também devolvemos sonhos, dignidade e liberdade.

 

O homem sempre procurou potencializar suas capacidades. E dificilmente vai parar.

 

Cassio Betine : Pós-graduado em Tecnologias da Aprendizagem, Bacharel em Artes e Desenho Industrial. Coordenador e Mentor de Negócios e Eventos. Autor de livros, artigos e produtor de conteúdos diários sobre Tecnologia, Inovação e Comportamento. É empreendedor em outros negócios e fundador da F7Digitall.com – Tecnologia & Comunicação.

 

**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação

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