Por Jean Oliveira
Desde cedo nos ensinam a caber. A caber no desejo dos pais, no padrão do grupo, na expectativa da sociedade. Muita gente cresce com o script pronto: ser o que os outros acham que é certo. Mas o problema é que o script nem sempre encaixa na nossa história. E chega uma hora em que o peso de tentar agradar a todos começa a sufocar.
Aí surge a pergunta inevitável: "Mas o que eu realmente quero?"
Assumir o próprio desejo não é simplesmente fazer o que dá vontade na hora. É muito mais profundo. Na psicanálise, o desejo não é capricho: é aquilo que nos move de verdade, que dá sentido ao nosso percurso. E bancar o próprio desejo exige, antes de tudo, escutar a si mesmo no meio do barulho de tantas vozes externas. Exige coragem. Não a coragem barulhenta de quem bate no peito, mas a coragem silenciosa de quem sustenta o próprio caminho mesmo sob olhares desconfiados.
Escolher não é enfrentar o mundo. É sustentar o próprio eixo.
Nem submissão, nem confronto: firmeza interna.
O grande desafio não é encontrar um "grande propósito" como muita gente vende por aí, mas dar sentido às escolhas cotidianas. Ter propósito é acordar sabendo por que se faz o que se faz, mesmo nos dias cinzas. É disciplina, é constância, é o compromisso de caminhar alinhado com aquilo que faz sentido — mesmo quando não há plateia.
Claro que vai dar medo. Sempre dá. Toda escolha real é um salto de fé. Não existe manual de garantias para a vida. Mas existe uma paz difícil de explicar quando a gente percebe que está vivendo em coerência com o que realmente importa. E, curiosamente, quando as incertezas aparecem — e elas sempre aparecem — deixam de ser monstros e viram curiosidade: "O que isso pode me ensinar agora?"
Ter bondade no olhar — consigo e com o outro — ajuda a dissolver o julgamento e abre espaço para o aprendizado. Ninguém tem tudo sob controle. Mas quem banca suas escolhas constrói, pouco a pouco, uma vida com sentido.
No fim das contas, é disso que se trata: viver de acordo com o que pulsa de verdade dentro da gente. Sem precisar de aplausos. Sem viver na defensiva. Com coragem tranquila.
Tenha coragem de ser quem você é.
Jean Oliveira é jornalista, turismólogo e acadêmico de Psicologia
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