Por Cassio Betine
A dependência da humanidade de energia é tão antiga quanto sua própria organização social. Desde o uso da lenha e do carvão até a exploração de petróleo e gás, cada etapa da história foi marcada por uma fonte predominante que moldou economias e sociedades. Hoje, em pleno século XXI que vivemos, o maior desafio é conciliar a crescente demanda energética com a urgência de reduzir impactos ambientais.
O modelo atual que consumimos, ainda fortemente baseado em combustíveis fósseis, gera emissões que aceleram as mudanças climáticas e expõe países à vulnerabilidade de crises geopolíticas ligadas ao fornecimento de petróleo e gás. Nesse contexto, fontes renováveis como a energia solar se tornaram protagonistas, mas enfrentam limitações: a intermitência da luz, a dependência de baterias, a necessidade de grandes áreas para instalação de painéis, etc etc.
E é nesse cenário que surge a ideia da energia solar espacial, ou Space-Based Solar Power (SBSP). O conceito, estudado desde a década de 1970 por engenheiros da NASA e da Agência Espacial Europeia, propõe a instalação de painéis solares em órbita, onde a luz do Sol é constante e mais intensa, livre das barreiras da atmosfera.
A energia captada seria transmitida à Terra por meio de micro-ondas ou lasers, convertida em eletricidade em estações receptoras. Embora teoricamente promissora, a tecnologia permaneceu por décadas como um sonho distante, principalmente devido ao custo proibitivo dos lançamentos de foguetes e à ausência de robótica avançada para montagem de estruturas em órbita.
Mas nos últimos anos o cenário mudou. A redução drástica dos custos de envio de cargas ao espaço, impulsionada por empresas como SpaceX e Blue Origin, abriu novas perspectivas. Além disso, avanços em robótica autônoma e inteligência artificial tornaram viável a montagem de satélites solares em órbita.
Universidades como o King’s College London e instituições japonesas vêm conduzindo estudos que demonstram o potencial da tecnologia: simulações indicam que, até 2050, painéis solares espaciais poderiam suprir até 80% da demanda energética da Europa, reduzindo em mais de 70% a dependência de baterias. No Japão, a JAXA (Agência Espacial Japonesa) já realizou testes de transmissão de energia sem fio em pequena escala, enquanto a China anunciou planos de construir uma estação solar espacial até 2035.
Empresas privadas também entraram na corrida. Startups como a Caltech, nos Estados Unidos, lançaram em 2023 protótipos de satélites capazes de captar energia solar e transmitir sinais de potência para receptores terrestres. A Airbus, na Europa, desenvolve projetos em parceria com governos para avaliar a viabilidade econômica da tecnologia. O interesse empresarial se explica pelo potencial de mercado: a energia solar espacial poderia fornecer eletricidade limpa e constante, sem depender de clima ou horário, revolucionando a matriz energética global.
Atualmente, essa tecnologia está em fase experimental e de demonstração, com protótipos em órbita e estudos de viabilidade econômica, tendo como principais desafios o custo de produção em larga escala, a eficiência da transmissão de energia sem fio e a segurança contra possíveis interferências. Mas o negócio funciona.
Porém, o ritmo avançado em que estão os estudos e testes, sugere que possivelmente nas próximas duas décadas veremos projetos-piloto de maior escala, capazes de fornecer energia a regiões específicas. A expectativa é que, até meados do século, a energia solar espacial se torne parte da matriz energética de países desenvolvidos, complementando fontes terrestres e reduzindo a dependência de combustíveis fósseis.
Segundo os cientistas, o futuro da energia solar espacial é bem promissor. Se os impedimentos técnicos e econômicos forem superados, essa tecnologia poderá inaugurar uma nova era energética, marcada pela abundância e pela sustentabilidade. Mais do que uma solução tecnológica, trata-se de uma resposta estratégica às necessidades globais de energia limpa, capaz de redefinir o equilíbrio econômico e ambiental do planeta.
Outro aspecto interessante é que isso pode mudar muito o cenário que vivemos. Imagine, daqui 100 anos, centenas de satélites com placas solares enviando energia sem fio para terra, estações terrestres captando essa energia, aparelhos conectados sem a necessidade de fios? Um futuro hi-tech espacial.
Cassio Betine: Pós-graduado em Tecnologias da Aprendizagem, Bacharel em Artes e Desenho Industrial. Coordenador e Mentor de Negócios e Eventos. Autor de livros, artigos e produtor de conteúdos diários sobre Tecnologia, Inovação e Comportamento. É empreendedor em outros negócios e fundador da F7Digitall.com – Tecnologia & Comunicação.
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