Opinião

Autonomia e liberdade

"... a autonomia sem responsabilidade, pode, na verdade, ser uma grande e fatal armadilha"
Da Redação
28/07/2024 às 09h45
Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Por José Márcio Mantello

 

Francis Schaeffer, filósofo e pastor presbiteriano, declarou certa vez, que um dos maiores males sociais de nosso tempo é a autonomia. O que a princípio seria uma boa saída para a escravidão social e intelectual, se tornou um apelo ao individualismo, egocentrismo e personalismo.

 

Cada um faz o que quer, seja na família, no ambiente de trabalho e na sociedade em geral. Filhos saem sem dar satisfação para onde vão, cônjuges não querem prestar contas de suas vidas um ao outro, colaboradores não prestam relatórios para seus superiores, etc. São exemplos práticos da famosa filosofia "cada um por si", cada vez mais comum nos dias atuais.

 

A autonomia é definida como "faculdade de governar a si mesmo" (AURÉLIO). Sua origem vem de duas palavras gregas: autos (por si só) + nomos (lei ou território). A Língua inglesa traduziu o termo como home rule, que apela para a idéia das leis que são criadas pelo próprio indivíduo e o norteiam pela vida. A autonomia poderia ser descrita como uma vida sem prestação de contas, onde a pessoa faz o que quer, de acordo com suas próprias leis .

 

O que parece ser evidência natural de quem está amadurecendo, afinal, à medida que crescemos, temos que nos desapegar da dependência própria da infância (biológica e existencial). Porém, a autonomia sem responsabilidade, pode, na verdade, ser uma grande e fatal armadilha.

 

A autonomia não deve ser confundida com liberdade. Esta última é sadia, necessária e imprescindível em qualquer processo. Ela anima, fortalece e dá sentido à existência. Filhos, líderes, funcionários, são cidadãos livres! Você e eu temos esse patrimônio que nos foi dado pelo próprio Deus. Fomos chamados para viver em liberdade, mas não podemos confundir autonomia e liberdade com libertinagem, ou seja, transformar algo tão belo em pretexto para uma vida sem prestação de contas, sem regras comuns e sem obediência às normas estabelecidas para o bom convívio social.

 

Sejam líderes ou governantes, ou qualquer outra pessoa que exerça cargo ou ofício de superioridade, precisam ser referências nesse aspecto, eu diria, precisam aprender a importância da prestação de contas e ao mesmo tempo o perigo da autonomia .

 

Você e eu não podemos exercer uma autonomia sem limites. A prestação de contas é salutar e pode nos livrar de grandes perigos. Na verdade, ela é uma cerca de proteção contra a nossa natureza corruptível, contra a soberba, contra um vício que está perigosamente se avizinhando, contra a insolvência financeira, a bancarrota, a destruição de uma família. Muitas dessas tragédias teriam sido evitadas por uma simples prestação de contas .

 

E essa prestação não significa apenas que avisaremos o que já fizemos, mas sim, que compartilharemos nossas ideias (intenções) antes de tomarmos nossas decisões.

 

Precisamos criar uma cultura de compartilhar e prestar contas. Muita liberdade para pensar, criatividade para imaginar, mas também responsabilidade para consultar e juntos construir o que é melhor para todos.

 

Prestar contas é a possibilidade de me submeter em liberdade a alguém que tem autoridade sobre mim ou maior experiência , para que não seja a minha decisão, mas sim a nossa e que não seja o meu planejamento, mas o nosso.

 

Você é autônomo? Ou uma pessoa livre para compartilhar?

 

Que usemos nossa liberdade para compartilhar nossos sonhos e submetê-los não às nossas próprias leis, mas sim às das realidades onde estamos inseridos.

 

Dificilmente alguém que viva uma autonomia sem limites, acreditará nas sábias palavras de Salomão, mas, nunca é demais relembrá-las:

 

“(...) anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de TODAS estas coisas Deus te pedirá contas”. (Livro de Eclesiastes 12:9b)

 

José Márcio Mantello é advogado criminalista na comarca de Araçatuba e Teólogo

Graduado em Direito pela UNITOLEDO; Pós-Graduação em Docência do Ensino Técnico e Superior pela UNITOLEDO; Pós-Graduação em Prática Penal Avançada pelo DAMÁSIO EDUCACIONAL; Especialização em Execução Penal pelo IDPB – Rio de Janeiro

Atuação no Tribunal do Júri

 

** Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação

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