Por José Márcio Mantello
As neuroses causadas pela religiosidade são um tema estudado tanto pela psicologia quanto pela psicanálise, especialmente quando a religião é vivida de forma culpabilizadora, repressiva ou obsessiva (religiosidade).
Não é a fé em si que causa o sofrimento psíquico, mas certas formas de vivência religiosa que geram conflito interno, medo e repressão emocional.
A “neurose religiosa” pode ser compreendida da seguinte forma : É um conjunto de sintomas psicológicos (ansiedade, culpa, medo, rigidez moral, repressão do desejo, etc.) que surgem quando a pessoa vive sua espiritualidade de forma punitiva, opressiva ou conflituosa.
Geralmente, há uma dificuldade de conciliar o que se sente e deseja com o que se acredita ser “aceitável” perante Deus ou a doutrina religiosa.
As causas mais comuns e identificáveis desse tipo de neurose são:
• Culpa excessiva : sensação constante de estar em pecado, mesmo por pensamentos ou atitudes inofensivas.
• Medo do castigo divino : pavor de ser punido por um Deus irado e vingativo, mesmo por pequenas falhas.
• Repressão de desejos e emoções : negação da sexualidade, da raiva, da dúvida, sentimentos estes, incompatíveis com a religiosidade.
• Ideal ou busca de uma pureza impossível : busca obsessiva por perfeição moral, levando à frustração e autoacusação.
• Autoridade religiosa rígida : líderes que impõem medo e controle, gerando dependência e submissão. Esse tipo de neurose leva às seguintes manifestações psicológicas:
• Transtornos ansiosos e obsessivos (“pecar” até em pensamento gera angústia).
• Depressão por sentimento de inadequação espiritual (nunca serei bom o suficiente).
• Dificuldade de se perdoar e aceitar a própria humanidade.
• Conflitos entre razão e fé (“não posso duvidar”).
• Distorção da imagem de Deus (visto mais como juiz do que como Pai). A psicanálise também já se enveredou para estudar esse tipo de neurose:
• Freud via a religião como uma “neurose coletiva”, pois ela reproduz o papel do pai severo e alimenta a culpa inconsciente.
• Jung, por outro lado, via o fenômeno religioso como expressão natural do inconsciente humano, mas considerava doentia a forma de religiosidade que nega o “Self” e impede a integração da personalidade.
Portanto, posso afirmar que, não há nenhum ponto de conexão entre religião e saúde mental, porque, na verdade, a religião e sua forma distorcida “religiosidade” é antissaúde mental, porque ela sempre irá gerar culpa, medo, dominação, controle, dívidas, inadequação, inaceitação, acrescida de uma constante necessidade de remição (diferente de remissão), porque as coisas nunca estarão resolvidas, estarei sempre inadimplente com um “deus” implacável. Por exemplo:
Se eu não frequentar assiduamente um lugar já serei culpado, se não fizer sacrifícios, inclusive financeiros, incorrerei em culpa e, estarei a um passo do inferno (seja ele como pintaram).
Todavia, na contramão de tudo isso, vem a proposta de Jesus, que traz um evangelho (uma boa notícia) onde o maior benefício é justamente uma saúde integral (corpo, alma e espírito).
Ele diz: “Vinde a mim todos os que estais CANSADOS E SOBRECARREGADOS (inclusive dos fardos religiosos que te impuseram) e eu vos aliviarei”.
Diz ainda que ELE veio para : abrir os olhos aos cegos (dar entendimento, trazer compreensão), por em liberdade todos os aqueles que estão cativos (inclusive nas masmorras da religiosidade).
Aos que tem dúvidas, ao invés de censurá-los ou repreendê-los veementemente, ELE fez questão de esperar e se apresentar a Tomé (o duvidoso) para ajudá-lo na sua incredulidade.
Àquela mulher que, em tese, teria cometido um pecado horroroso, imperdoável (adultério), a ponto de ser merecedora de morrer apedrejada, ELE faz os seus acusadores refletirem: O PECADO DOS OUTROS PARECEM SER ABSURDOS, ENQUANTO OS SEUS NÃO SÃO EXPOSTOS.
Por fim, vale lembrar que, os discursos mais duros de Jesus foram direcionados aos religiosos de sua época, os quais, sob o manto da hipocrisia, se achavam no direito de apontar o dedo, de jogar sobre os ombros das pessoas, o fardo da religiosidade, como um meio de dominação e exploração dos “pobres pecadores”.
Passaram-se milênios, mas, o modus operandi continua o mesmo por parte da maioria esmagadora dos líderes religiosos.
Confesso a você que não é nada fácil se curar dessa que é uma das piores neuroses existenciais. Porém, ainda há tempo de ser tratado e curado pela receita dada e provada por Jesus: O AMOR.
O maior dos mandamentos não inicia com NÃO FAÇAS ISSO OU AQUILO, mas sim, com: AME A SI MESMO PARA OFERECER UM AMOR SAUDÁVEL AO SEU PRÓXIMO.
Afinal, amar é o maior culto que podemos oferecer a Deus. O apóstolo Paulo deixa isso muito claro quando diz em I Coríntios, capítulo 13:
Ainda que eu tivesse todos os dons, ou uma fé gigantesca, conhecesse todos os mistérios, ainda que eu desse (esmolar) tudo o que tenho ou até entregar o meu próprio corpo para ser queimado (como sacrifício), se eu não tiver amor ou não fizer tudo isso por amor, isso seria vazio, sem sentido e sem valor para Deus .
Portanto, se eu puder lhe dar um conselho, seria esse: fuja de ambientes religiosamente tóxicos enquanto lhe resta um pouco de saúde e sensatez mental.
*José Márcio Mantello é advogado criminalista na comarca de Araçatuba e Teólogo
Graduado em Direito pela UNITOLEDO; Pós-Graduação em Docência do Ensino Técnico e Superior pela UNITOLEDO; Pós-Graduação em Prática Penal Avançada pelo DAMÁSIO EDUCACIONAL; Especialização em Execução Penal pelo IDPB – Rio de Janeiro
Atuação no Tribunal do Júri
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