Saúde & Bem-Estar

A saúde cardiovascular das mulheres precisa de cuidados

Aumento dos casos de doenças cardiovasculares em mulheres acende alerta para prevenção de forma integrada, aponta especialista
Da Redação
25/09/2023 às 09h03
Foto: Divulgação Foto: Divulgação

As doenças cardiovasculares, que tradicionalmente preocupam os homens, já são hoje responsáveis por 35% dos óbitos femininos no mundo. No Brasil, elas respondem por 28% das mortes entre as mulheres. Em 2019, o DataSUS revelou que as doenças do aparelho circulatório foram a principal causa de mortalidade feminina no Brasil, superando inclusive a soma de todos os tipos de câncer, o que representa mais de 170 mil óbitos por ano no país. Por isso, é importante alertar sobre o tema no Dia Mundial do Coração, celebrado em 29 de setembro.

 

“O cenário preocupa, pois o número de casos vem aumentando, principalmente entre mulheres jovens e de meia-idade. Um quadro que é possível reverter, pois já sabemos que 80% dessas doenças podem ser evitáveis com um estilo de vida saudável e acompanhamento médico adequado”, explica a cardiologista do Sabin Diagnóstico e Saúde, Carla Janice Baister Lantieri.

 

“Sempre se acreditou que os riscos de doenças cardiovasculares eram os mesmos para homens e mulheres, mas hoje já sabemos que existem riscos específicos relacionados ao gênero feminino e, por isso, precisamos chamar a atenção para o tema”, destaca a médica. Em 2022, o Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) publicou pela primeira vez o Posicionamento sobre Saúde Cardiovascular nas Mulheres, intitulado “Carta às Mulheres”.

 

Além dos fatores clássicos, como sedentarismo, obesidade, estresse, tabagismo, dislipidemia, hipertensão arterial, diabetes e má qualidade do sono, que afetam tanto homens quanto mulheres, existem fatores de risco inerentes ao gênero feminino e pouco associados às doenças cardiovasculares. “Em cada fase da vida da mulher, há riscos específicos para a saúde cardiovascular. A gravidez é um momento de importante alteração nos níveis hormonais, com propensão ao desenvolvimento de hipertensão arterial gestacional, que pode evoluir para hipertensão sistêmica pós-gestação. No pós-parto, ocorrem alterações glicêmicas e dificuldades na redução de peso. Na menopausa, temos a perda do fator protetor do estrogênio, tornando o sistema mais vulnerável a um infarto do miocárdio”, explica Lantieri. Segundo ela, os fatores de risco relacionados ao sexo incluem ainda a síndrome dos ovários policísticos, o uso de contraceptivos hormonais e a terapia de reposição hormonal na menopausa.

 

Para além dos fatores de risco clássicos e específicos, o Posicionamento sobre Saúde Cardiovascular nas Mulheres também destaca os chamados fatores sub-reconhecidos, como depressão, ansiedade, falta de acesso aos sistemas de saúde, estresse crônico, tratamento oncológico, além de abuso e violência, discriminação racial e orientação sexual, como fatores relacionados ao aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares em mulheres.

 

“Há uma distorção na ideia de que as mulheres cuidam mais de sua saúde e consultam o médico com mais frequência. Isso ocorre quando falamos em saúde reprodutiva, mas não quando falamos das doenças do coração. É preciso abordar a saúde da mulher de forma integral e individualizada, criando uma rotina de cuidados preventivos que também considere os riscos que afetam a saúde cardiovascular ao longo da vida”, completa Carla.

 

Outro aspecto importante é que os sintomas das doenças cardiovasculares em mulheres podem ser diferentes, e, por isso, muitas vezes, não são considerados ou são negligenciados tanto pela paciente quanto pelo médico. “Desconforto epigástrico, que ocorre na região chamada de 'boca do estômago', logo abaixo do tórax, fadiga e palpitações podem ser sintomas iniciais, mas muitas vezes são atribuídos à ansiedade, atrasando o início do tratamento correto”, destaca a médica.

 

O diagnóstico precoce e o tratamento adequado dessas doenças são essenciais para reduzir a mortalidade e a morbidade. Portanto, é importante que as mulheres se conscientizem sobre os riscos e busquem orientação médica regularmente.

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