Opinião

Tema: a pedagogia das circunstâncias

"a esmagadora maioria das pessoas é reprovada (porque não aprende), e assim, tem-se a necessidade de passar por elas novamente"
Da Redação
27/10/2024 às 10h56
Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Por José Márcio Mantello
 


Talvez não haja nada mais pedagógico que as variadas circunstâncias que passamos e experimentamos ao longo da nossa existência.

 

Há coisas que jamais aprenderemos no ambiente seguro de um lar, muito menos numa sala de universidade, ou ainda, numa cadeira de igreja. É o tal do adágio: “Na prática, a teoria é outra” .

 

O problema é que, a maioria de nós não aproveita, ou não reconhece o conteúdo pedagógico existente em cada uma delas.

 

Ou ainda o que é pior; a esmagadora maioria das pessoas é reprovada (porque não aprende), e assim, tem-se a necessidade de passar por elas novamente.

 

Diante da Pedagogia das circunstâncias sempre haverá dois grupos: os aprovados e os repetentes. Segundo a Bíblia cristã, toda uma geração (aquela que foi liberta do Egito) foi reprovada após 40 anos de repetência contínua.

 

Fato incontroverso, é que há um currículo na escola da vida, cujo objetivo é nos fazer gente madura, completa . E, talvez, aqui esteja uma das explicações da fragilização das gerações ao longo dos tempos. Estamos assistindo o surgimento e o crescimento de uma geração que não suporta o mínimo de dor, de frustração, de contrariedade. Não à toa, o significativo e assustador aumento de tratamentos e medicamentos (ansiolíticos, antidepressivos, etc) receitados cada vez mais precocemente.

 

Embora, não acredito em receita pronta para nada daquilo que é existencial e personalíssimo, creio que algumas posturas são fundamentais para reconhecermos e aproveitarmos o conteúdo pedagógico das circunstâncias.

 

A primeira é ter e conservar uma atitude de aprendiz em meio à diversidade das circunstâncias.

 

A linda canção “Seguindo em frente”, composta por Renato Teixeira e Almir Sater, fala de alguém que APRENDEU , depois de muitas experiências, a levar a vida com mais leveza, sem pressa, sem grandes expectativas (que podem trazer ansiedade e frustrações). A letra fala desse aprendizado na vida e com a vida.

 

Hoje, diz a canção: “ando devagar porque já tive pressa, e levo esse sorriso porque já chorei demais. Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe, só levo a certeza de que muito pouco eu sei, eu nada sei”.

 

Isso fala da necessidade de CONTINUAR APRENDENDO.

 

A lição que podemos assimilar é que esse tipo de maturidade não vem por acaso, pelo contrário, é o resultado de um longo e contínuo aprendizado.

 

Enquanto a maioria das pessoas aprende a se tornar fechada, desconfiada e entristecida com as amargas experiências da vida, podemos escolher, diante dessas mesmas experiências, comuns a todos nós, viver não condicionados por elas.

 

Aliás, essa é uma decisão que teremos que tomar inúmeras vezes ao longo da nossa jornada : O que eu vou fazer com aquilo que fizeram comigo?

 

Como Paulo (filósofo e apóstolo) escreveu em uma das suas cartas: “Eu aprendi a viver contente em toda e qualquer situação”.

 

Com certeza, ele havia descoberto um dos segredos mais preciosos, qual seja, o de considerar cada experiência (boa ou ruim), uma excelente oportunidade para aprender a viver. Talvez esteja nos faltando isso, uma atitude de aluno, de aprendiz na vida.

 

A segunda postura, seria a de exercer o autocontrole em meio às mais variadas circunstâncias que a vida nos impõe.

 

Esse é um dos maiores obstáculos para o nosso aprendizado, ou seja, perdermos o controle, entrarmos em desespero, quando somos submetidos às provas existenciais. E, assim, reduzimos consideravelmente a capacidade de enxergar o aprendizado em meio às circunstâncias adversas.

 

Na verdade, esse é um dos nossos maiores desafios: Manter o autocontrole (Keep Calm), mesmo quando tudo parece sair do controle.

 

É essencial, que nos momentos de grandes turbulências, exercitar uma administração autônoma de nossas emoções, principalmente, diante daquelas circunstâncias que tem o poder de acionar os gatilhos, que por sua vez, poderão disparar o pior que existe em nós.

 

Manter o domínio próprio, exercitar a autodeterminação, em meio ao caos, às adversidades e contrariedades, é uma das provas mais difíceis na escola da vida. Poucos são os aprovados nesses testes.

 

Novamente relembrando e interpretando a afirmação de Paulo, quando ele diz que “havia aprendido a viver contente em toda e qualquer situação”, na verdade, ele estava dizendo que, é possível conservar a serenidade, o controle da situação, a autonomia, independentemente dos problemas que estamos enfrentando. Mais que isso, ele havia aprendido a não perder o controle nos momentos de instabilidade, de variações que enfrentamos na vida.

 

Com certeza, essa é uma das mais importantes lições a ser aprendida e aplicada ao longo da vida: manter a serenidade e o equilíbrio em toda e qualquer situação ; seja na hora da humilhação ou da exaltação, da fartura ou da fome, da abundância ou da escassez.

 

Tem gente que não sabe perder, outros, porém, que não sabem vencer. Muitos não sabem administrar nem uma situação nem outra . Quando estão “por baixo”, praguejam, reclamam, se enchem de ódio e amargura. Quando “por cima”, esbanjam, esnobam e humilham quem está “por baixo”.

 

A vida é a grande universidade à disposição de todos! Se você está lendo esse despretensioso artigo, é porque você permanece matriculado nela. Portanto, não desperdice as inúmeras oportunidades e tão grande diversidade pedagógica. Afinal, o curso não terá 2ª edição.

 

José Márcio Mantello é advogado criminalista na comarca de Araçatuba e Teólogo

Graduado em Direito pela UNITOLEDO; Pós-Graduação em Docência do Ensino Técnico e Superior pela UNITOLEDO; Pós-Graduação em Prática Penal Avançada pelo DAMÁSIO EDUCACIONAL; Especialização em Execução Penal pelo IDPB – Rio de Janeiro

Atuação no Tribunal do Júri

 

** Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação

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