Por Hélio Consolaro*
O tempo de vida quem dá é Deus, gritam os profetas. Mas os homens organizam a vida se esquecendo das recomendações, já até implantaram a escravidão: um ser humano obriga o outro a dar ou vender o seu tempo para o outro, estabelecendo-se a exploração total.
Houve época, já na revolução industrial, com escravidão já eliminada, que a jornada diária de trabalho era de 12x0. E os pregadores amenizavam a pregação, permitiam a venda em excesso das horas.
A elite nunca foi de trabalhar, sempre gostou de mandar, quem tem empregado é quem progride, essa é a lógica da humanidade assim que partiu para a exploração do outro.
Quanto mais horas trabalhadas, mais aumenta o lucro. No tempo da monarquia, o trabalho era coisa de escravo, já a burguesia melhorou o significado do trabalho, dizendo que dignifica o ser humano, mas a todos, não só a classe operária. Para provar a origem de que o trabalho nunca foi valorizado é a etimologia da palavra: trabalho = tortura.
Estava num quieto, tudo permitido, o legal e o ilegal. Uma facção do parlamento denunciou o problema. Assim, está no parlamento brasileiro a discussão de 6 dias de trabalho e 1 de descanso (6x1), que é o sistema vigente, enquanto a oposição quer 5x2 ou 4x3. Isso já promoveu revoltas noutros países.
Se a humanidade avançou tecnologicamente, e isso promove o desemprego, há ócio a ser repartido por todos. Trabalha-se menos horas por dia para sobrar folga para todos, não só aos patrões. Nem só os aposentados têm o direito a viagens.
Começar trabalhar muito cedo não é mais recomendável, pois não desenvolve na criança e no adolescente a cultura do entretenimento. Tenho um cunhado com quase 90 anos cuja maior amargura é não saber se divertir: "só aprendi a trabalhar, minha velhice não está sendo alegre". Começou a trabalhar muito cedo.
O entretenimento é um dos primeiros elementos que aparecem na discussão: todos têm direito ao lazer, não são só os patrões. Para a criança, a vida é um brincadeira que será recuperada na velhice.
Então, trabalhador, que vende o seu tempo para um patrão. O seu corpo é o que conta, é o único capital, então trata-o de conservá-lo, livre dos vícios, mas não ultrapasse o seu limite no trabalho exagerado.
Pode existir a alma, mas na morte dele, tudo desaparece, seja sua crença transcendental ou imanentista. O trabalho não mata ninguém, desde que seja prazeroso.
No Antigo Testamento, que narra um mundo de escravidão, onde povos subjugavam outros transformando-os em escravos, dizia revolucionariamente que guardasse o sétimo dia como um dia santo. Trabalhe nos outros seis dias, mas o sétimo dia é o dia de descanso do SENHOR, seu Deus (Êxodo 20:8-11). A Bíblia mostra que o descanso é importante e que deve ser santificado.
Naquela época 6x1 era a luta, quando a escravidão predominava. Agora que evoluímos mais em termos de civilização, o descanso deve ser ampliado. Todos os dias são santos, não há dias inúteis.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP, Penápolis e Itaperuna-RJ
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