Opinião

Discernindo os novos tempos

“De muita pouca valia será estabelecermos uma lista de coisas relacionadas ao FAZER, ao conquistar, se deixarmos de lado o SER”
Da Redação
31/12/2023 às 12h58
Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Por José Márcio Mantello

 

“da tribo de Issacar, conhecedores da sua época, que sabiam como Israel deveria agir em qualquer circunstância...” (I Livro de Crônicas 12:32)

 

Estamos saindo de mais um ano e entrando em outro. Nada mais comum nessa época que rascunharmos nossas “promessas e compromissos” para o novo tempo que se inicia (cronologicamente). Todavia, muitos estarão, exatamente, daqui um ano novamente, refazendo os mesmos propósitos.

 

Óbvio que não podemos controlar o futuro (nem sequer ele ainda existe) e, são muitas as circunstâncias que irão surgir ao longo da caminhada que, acabarão impedindo de cumprirmos o que prometemos ou planejamos.

 

Há, porém, um elemento que passa imperceptível, o qual, quando não considerado, faz com que continuemos nessa “roda de moagem” chamada de tempo, sem alcançarmos êxito, dando passos, porém, sem sairmos do mesmo lugar. Esse elemento é a ausência de discernimento dos novos tempos que estamos vivendo.

 

Discernimento é a capacidade de compreender as situações, de avaliar as coisas com bom senso e clareza. Nesse texto acima, narra-se uma das qualidades dos filhos de Issacar (uma das tribos do antigo Israel): eles eram conhecedores do seu tempo e, por isso, sabiam como agir diante dos desafios.

 

Se não discernirmos o nosso contexto histórico-cultural no qual estamos inclusos, certamente seremos moídos, esmagados facilmente. De nada adiantará termos um 2024, 2025... 2030, se não soubermos como viver e agir nesses novos calendários.

 

O que precisamos, então, discernir a respeito desse tempo do qual somos contemporâneos?

 

1. ELE É MARCADO POR UMA SOCIEDADE LÍQUIDA

 

O conceito de uma sociedade líquida foi desenvolvido pelo sociólogo polonês Zigmunt Bauman e diz respeito a uma nova época, cujas principais características seriam: o desapego (ausência de vínculo afetivo), relações frágeis, efêmeras e fugazes, provisoriedade (nada é para sempre, tudo pode ser facilmente descartado); o individualismo exacerbado; a ausência de empatia que é a capacidade de solidarizar com a dor do outro; tempo de liberdade, mas que facilmente se transforma em libertinagem e, por consequência, insegurança.

 

Nesse tipo de sociedade, a desonestidade e a frieza imperam em relação às pessoas que estejam fora do âmbito imediato de nossos próprios interesses. As relações interpessoais são ligadas e desligadas como um fio na tomada, de acordo com as conveniências.

 

Portanto, estabelecer metas, alvos, propósitos para o novo ano sem levar em consideração tais aspectos, pode ser uma receita infalível para a frustração.

 

2. ELE É MARCADO PELA AUSÊNCIA DE SENTIDO E IDENTIDADE

 

A falta desses componentes essenciais na vida de qualquer ser humano, tem levado a um número alarmante (para não dizer assustador) de doenças e transtornos psicológicos como depressão, crises de ansiedade, de pânico e, culminando, não raras vezes, em suicídios.

 

De muita pouca valia será estabelecermos uma lista de coisas relacionadas ao FAZER, ao conquistar, se deixarmos de lado o SER.

Não há nada de errado em buscarmos realizações, ambicionar conquistas, etc, porém, se não cuidarmos de quem somos, se não soubermos quem de fato somos, de onde viemos, todo o restante não fará sentido. Exemplo clássico é o número de “celebridades” que, embora “tenham tudo”, já provaram de tudo, acabam se entregando ao alcoolismo, às drogas, e literalmente desistem de viver.

 

3. ELE É MARCADO PELA CULTURA DO ENTRETENIMENTO

Diante dos gigantescos desafios, do medo do enfrentamento, opta-se pelo entretenimento. Na verdade, diante de uma crise, a maioria escolhe a distração. Até mesmo governos (dos tempos mais remotos) oferecem “pão e circo” como método de alienação.

O rei Salomão, tido como o homem mais rico e sábio do seu tempo, no momento mais agudo e angustiante de sua vida, em sua maior crise existencial, buscou no entretenimento e no hedonismo (busca pelo prazer como um fim em si mesmo), um paliativo para seus dilemas interiores; e a conclusão que chegou, é que tudo desaguava em um grande vazio.

 

Em Eclesiastes (livro cuja autoria é atribuída a Salomão como uma autobiografia), no capítulo 2, ele diz: “Vou experimentar o prazer em toda a sua intensidade e conhecer as alegrias da vida!” Porém, conclui: Isso também foi inútil, mais um grande vazio”.

A sociedade dos nossos dias, procura no entretenimento, a cura para seus males, sem dar conta de que isso, só aumenta a profundidade do abismo. Por tudo isso, embora longe de esgotar o assunto, se você ainda estiver confeccionando sua lista de alvos, metas e propósitos para o próximo ano, considere o contexto desses novos tempos.

 

E assim, como os filhos de Issacar, você saberá responder e agir de acordo com os desafios que esse novo tempo irá nos propor.

 

FELIZ ANO NOVO (COM O DEVIDO DISCERNIMENTO) !!!

 

José Márcio Mantello é advogado criminalista na comarca de Araçatuba e Teólogo

Graduado em Direito pela UNITOLEDO; Pós-Graduação em Docência do Ensino Técnico e Superior pela UNITOLEDO; Pós-Graduação em Prática Penal Avançada pelo DAMÁSIO EDUCACIONAL; Especialização em Execução Penal pelo IDPB – Rio de Janeiro

Atuação no Tribunal do Júri

 

** Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação

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