Opinião

A era do controle remoto cerebral pode estar bem próxima

"A ideia é que o usuário pense na ação que deseja executar e o chip converta essa intenção em atividade real"
Da Redação
07/04/2024 às 09h57

Por Cássio Betine

 

A evolução da primeira implantação do chip neural em um paciente tetraplégico tem sido um marco significativo na neurociência e na tecnologia médica. Você deve saber (se acompanha esses temas), que recentemente, a Neuralink, empresa co-fundada por Elon Musk - o poderoso chefão das tecnologias de ponta, realizou uma demonstração ao vivo onde Nolan, um homem de 29 anos que ficou tetraplégico após um acidente de carro, conseguiu controlar um computador usando apenas seus pensamentos, graças ao chip neural implantado em seu cérebro. 

 

Esse avanço representa um progresso encorajador na interface cérebro-computador, com o potencial de restaurar a independência e melhorar a qualidade de vida para pessoas com paralisia severa. Ainda que o implante não seja perfeito e existam desafios a serem superados, como a necessidade de mais pesquisas para garantir a segurança e eficácia a longo prazo, as expectativas são altas. A tecnologia promete não apenas ajudar indivíduos paralisados a recuperar movimentos, mas também abrir caminho para futuras aplicações que podem incluir a melhoria da função cognitiva ou até mesmo a comunicação telepática entre outras coisas.

 

O Telepathy, nome dado ao chip implantado, funciona da seguinte forma: ele opera através de um sistema sofisticado que integra neurociência e tecnologia avançada. O processo começa com a emissão de sinais cerebrais, que são captados por filamentos ultrafinos implantados no cérebro. Estes filamentos, mais finos que um fio de cabelo, são inseridos por um robô-cirurgião especialmente desenvolvido para este fim. Os sinais são então transmitidos para o chip, que os decodifica e os envia via Bluetooth para um aplicativo da Neuralink. Este aplicativo interpreta os sinais como comandos específicos, permitindo ao usuário realizar ações como enviar mensagens de texto ou controlar um computador apenas com o pensamento. A ideia é que o usuário pense na ação que deseja executar e o chip converta essa intenção em atividade real, criando uma interface cérebro-computador que pode revolucionar a maneira como interagimos com a tecnologia e auxiliar significativamente pessoas com deficiências motoras.

 

Esse tipo de tecnologia (de chip neural), tem um vasto potencial de aplicações além da assistência a pessoas com problemas no sistema nervoso. Uma delas, e talvez a mais promissora, é na área da saúde mesmo, onde poderia ajudar a restaurar a visão em pessoas cegas através de um chip chamado Blindsight, que se encontra atualmente também em fase avançada de testes. Além disso, há possibilidades de uso nos wearables (dispositivos vestíveis), como relógios e óculos inteligentes, que poderiam ser controlados diretamente pelo cérebro do usuário. Imagina só que negócio louco! 

 

Outras aplicações incluem também a melhoria da função cognitiva, a comunicação telepática e até a possibilidade de download de informações e memórias (como aquela de um dos episódios da série Black Mirror - onde as pessoas podiam arquivar as imagens do dia a dia e acessá-las quando julgassem necessário). Embora isso esteja mais no campo da especulação e da ficção científica, é uma opção bem possível, segundo alguns cientistas. 

 

A tecnologia também pode ter implicações significativas para casas inteligentes, cidades inteligentes e automação industrial etc etc etc, onde a interface cérebro-computador poderia permitir uma interação mais intuitiva e eficiente entre humanos e máquinas.

 

Ou seja, parece mesmo inevitável que esse tipo de recurso (interface cérebro-máquina) seja absorvido pelos humanos e possa fazer parte de nossas vidas num futuro não tão distante (na verdade já está fazendo), mas é bom lembrar que essas inovações acontecem em progressão geométrica e podemos ter surpresas num piscar de olhos. Além disso, é importante também considerarmos as tecnologias que avançam em outras frentes, como a inteligência artificial - que vem evoluindo de forma rápida e surpreendente, a nanotecnologia - que cria objetos potentes praticamente invisíveis e os processadores e de dados e baterias atômicas (ambos quânticos) - que podem promover um salto absurdo na manipulação de dados e na geração de energia para que tudo isso funcione praticamente uma vida inteira.

Isso tudo é realidade e está acontecendo em vários laboratórios no mundo todo. Obviamente existem as questões éticas, como regras e regulamentações, mas a pergunta que fica é a seguinte: Até quando isso é controlável?

 

*Cássio Betine é head do ecossistema regional de startups, coordenador de meetups tecnológicos regionais, coordenador e mentor de Startup Weekend e pilot do Walking Together. Cássio é autor do podcast Drops Tecnológicos

 

**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação.

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