Justiça & Cidadania

Justiça promove audiência com acusados de assassinatos no assentamento Chico Mendes

Vítimas tiveram os corpos carbonizados em carro incendiado em um canavial e réus foram denunciados por latrocínio; defesa apresenta carta e alega que não houve roubo, mas cobrança de dívida
Lázaro Jr.
03/10/2023 às 14h53
Carro incendiado com os corpos dentro foi encontrado em canavial em Araçatuba (Foto: Divulgação) Carro incendiado com os corpos dentro foi encontrado em canavial em Araçatuba (Foto: Divulgação)

A Justiça de Araçatuba (SP) realiza nesta terça-feira (3), a primeira audiência relacionada ao processo em que Alisson Henrique Navarro Pereira e Paulo Gabriel Tete Cerqueira foram denunciados por latrocínio, pelo assassinato e ocultação dos cadáveres de Edson Aparecido Inácio de Lima, 61 anos, e Altamiro Pereira da Silva.

 

As vítimas desapareceram no dia 12 de março, quando estavam em um sítio no assentamento Chico Mendes, e os corpos de ambos foram encontrados dias depois , carbonizados, dentro de um carro que foi incendiado em um canavial, 30 quilômetros distante do assentamento.

 

Segundo a denúncia, após os assassinatos, os autores teriam roubado 35 cabeças de gado que foram vendidas posteriormente, por isso eles foram denunciados por latrocínio. Entretanto, a defesa alega que o rebanho não foi roubado, já que teria sido oferecido como parte do pagamento de suposta dívida.

 

Para justificar essa versão, foi anexada ao processo uma carta escrita por uma suposta testemunha dos crimes, que afirma ainda que os dois réus não teriam participação nas mortes.

 

Desaparecimento

 

O caso ganhou grande repercussão depois que familiares das vítimas procuraram a imprensa para informar os desaparecimentos. A esposa de Edson, que era o proprietário do sítio, informou à reportagem na época que vinha mantendo contato diariamente com ele, que deixou de responder uma mensagem enviada por celular pouco depois das 18h30 do domingo em que desapareceu.

 

Ela procurou a polícia na terça-feira, após uma pessoa que entrega leite na propriedade comunicar que havia estado na propriedade na segunda-feira e retornado na terça-feira, mas não encontrou ninguém. Na ocasião, foi constatado que o gado que havia na propriedade havia desaparecido, junto com a Ford Ecosport pertencente a Edson.

 

Corpos

 

Os corpos das vítimas foram encontrados na manhã da quinta-feira, dentro da Ecosport que foi incendiada em um canavial. O veículo foi localizado com auxílio do helicóptero Águia da Polícia Militar, após denúncia anônima.

 

Durante o inquérito, instaurado pela DIG/Deic (Delegacia de Investigações Gerais da Divisão Especializada de Investigações Criminais), a Polícia Civil identificou os autores, que foram presos durante operação realizada em 23 de março.

 

Na ocasião foram cumpridos três mandados de prisão temporária e 19 de busca e apreensão nas cidades de Auriflama, Guzolândia, Guararapes e Sud Mennucci, sendo recuperada parte do gado levada da propriedade.

 

Denúncia

 

De acordo com a denúncia, as vítimas foram assassinadas no domingo em que desapareceram. Consta que Alisson e Paulo, também conhecido como “Paulo Tetê” ou “Gabriel Tetê" , estiveram na propriedade de Edson, que estava acompanhado de Altamiro, que trabalhava como retireiro no sítio.

 

Ainda de acordo com a denúncia, Alisson primeiro teria atirado em Edson, enquanto Paulo bateu com um pedaço de madeira em Altamiro. Porém, a segunda vítima teria sido baleada em seguida por Alisson.

 

Os dois teriam colocado os corpos no porta-malas da Ecosport de Edson, que foi conduzida por Alisson até o canavial. Ele teria sido acompanhado por Paulo, que estava em outro veículo, no qual estava um galão com gasolina utilizado para provocar o incêndio. Alisson teria jogado o combustível sobre o veículo com os corpos dentro e ateado fogo.

 

Ainda de acordo com a denúncia, na manhã seguinte Paulo e outro investigado estiveram na propriedade de Edson e transportaram o gado da vítima até o sítio de Alisson, localizado na frente. O próprio Alisson teria negociado a venda dos animais adultos por R$ 25.000,00.

 

Os dois réus foram denunciados por latrocínio e ocultação de cadáver e estão presos preventivamente no CDP (Centro de Detenção Provisória) de São José do Rio Preto.

 

Audiência

 

Na audiência desta terça-feira serão ouvidas apenas as testemunhas de acusação. Posteriormente serão ouvidas as testemunhas de defesa e só depois os réus serão interrogados. No despacho consta que policiais civis e militares poderão ser ouvidos virtualmente.

 

As testemunhas residentes na comarca devem participar presencialmente no Fórum de Araçatuba, enquanto as que residem em outras cidades serão ouvidas nos respectivos Fóruns de Justiça.

 

Alisson tem a defesa feita pelo advogado Edgard Antônio dos Santos, e Paulo é representado pelos advogados Milton Walsinir de Lima e Nathaly Fernanda de Lima, do escritório Lima & Lima Advocacia, e César Augusto Silva Franzói.

 

Testemunha apresenta carta afirmando que não houve roubo

 

As defesas de Paulo Gabriel Tete Cerqueira e Alisson Henrique Navarro Pereira apresentaram à Justiça, uma carta de uma suposta testemunha, afirmando que os dois não teriam envolvimento com os crimes que não teria ocorrido roubo do gado da propriedade das vítimas, o que desclassificaria o crime para homicídio, cuja pena é inferior.

 

Nesta carta, escrita em 16 de junho, uma testemunha afirma que a morte foi em consequência de um acerto de contas. De acordo com ela, Edson Aparecido Inácio de Lima teria uma dívida de R$ 131 mil e outros dois homens teriam ido à propriedade na manhã daquele domingo.

 

Na ocasião eles teriam recebido o gado como parte do pagamento, no valor de R$ 31 mil, e teria ficado acertado de o restante ser pago em dinheiro. Porém, quando os réus retornaram no período da tarde para buscar o dinheiro, as vítimas teriam recusado o pagamento e mandado os dois procurarem a Justiça. “Eu estava por perto e ouvi e vi tudo, até eles entrar em luta. Aí foi pancadaria, tiros e morte”, cita a testemunha na carta que foi anexada ao processo.

 

Essa testemunha afirma que foi até à propriedade com os réus para fazer uma cobrança e chegou a acompanhar os dois até o canavial, onde o carro foi incendiado com os corpos dentro. “Então, o Gabriel e o Alisson não tiveram nenhum envolvimento com isso, é bom saber, que nem por lá eles estavam, então, são mais dois inocentes presos”, cita a carta.

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