Cotidiano

Birigui terá projeto pioneiro que foge do modelo de descarte, coleta e destinação do lixo

Cidade foi escolhida para aplicação de estudo do Atlas Global de Resíduos Sólidos da ONU, que adota práticas circulares
Lázaro Jr.
01/10/2025 às 16h10
Felipe Dall alerta que 40% do lixo gerado no mundo não é tratado da forma adequada (Foto: Lázaro Jr.) Felipe Dall alerta que 40% do lixo gerado no mundo não é tratado da forma adequada (Foto: Lázaro Jr.)

Birigui (SP) foi selecionada pelo Centro de Excelência e Tecnologia do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), para ser a cidade que receberá o primeiro estudo decorrente do Atlas Global de Resíduos Sólidos da ONU (Organização das Nações Unidas).

 

De acordo com o consultor internacional da ONU, Carlos Rosa Filho, que coordenou a publicação do guia, que faz o diagnóstico do problema e traz recomendações, esse projeto foge do modelo de descarte, coleta e destinação e adota práticas circulares.

 

Ele participou do 3º Café Empresarial de Birigui, realizado na terça-feira (30), e explicou que o estudo mostra que o que está sendo feito atualmente não traz resultado. Porém, de acordo com ele, para fazer a publicação ser percebida e colocada em prática, era preciso encontrar uma cidade que se enquadrasse nas necessidades do projeto.

 

Escolha

 

Ainda de acordo com ele, Birigui entrou no radar quando o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Carlos Farias, participou de um evento realizado pela ONU em São Paulo e falou do desejo da administração municipal em resolver o problema do descarte dos resíduos sólidos.

 

Em setembro de 2023, o aterro sanitário de Birigui chegou a ser interditado pela Cetesb (Companhia Ambiental de São Paulo), em razão do funcionamento em desacordo com as diretrizes técnicas operacionais da companhia.

 

A Prefeitura obteve a primeira Licença de Operação para o aterro em dezembro de 2003 e a solicitação de Renovação da Licença, feita no início de 2022, recebeu Parecer Desfavorável da Companhia devido às condições inadequadas da operação do aterro. 

 

Oportunidade única

 

Rosa comentou que é preciso tomar alguma providência, porque o mundo está evoluindo de maneira acelerada, com investimentos em todos os setores, mas está falhando por estar deixando uma pegada no planeta. “Esta pegada que estamos deixando está afetando a estrutura geológica do planeta”, alertou.

 

De acordo com ele, a geração de resíduos sólidas é uma das crises vividas pelo planeta e a conta é paga por todos os cidadãos. “Então a gente precisa mudar. Temos uma oportunidade única de fazer a coisa certa, nós temos que parar de seguir essa linha reta, porque sempre foi assim, e justamente desviar o caminho", disse.

 

Ele acrescentou que é justamente isso que o projeto que está sendo trazido para Birigui faz, ao inovar, para romper paradigmas, para ser disruptivo. "Como a cidade tem feito em várias frentes, em vários setores e na gestão de resíduos não pode ser diferente”, afirmou.

 

O representante da ONU argumenta que adotar essas práticas cumpre-se os princípios da economia circular do meio ambiente e gera resultado econômico positivo. “Que esse modelo seja uma inspiração, um catalizador de ações transformadores para o futuro”, comentou.

 

Práticas inadequadas

 

Felipe Dall, catarinense que atua no Centro de Tecnologia Ambiental do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), que tem escritório no Japão, também participou do encontro e explicou que ele trabalha com resíduos sólidos. 

 

De acordo com ele, relatório produzido no ano passado sobre o manejo de resíduos global aponta que 40% do lixo gerado no mundo não é tratado da forma adequada, como as melhores práticas de meio ambiente exigem. “As práticas inadequadas são lixo jogado em rios, em áreas de mata virgem, queimado a céu aberto ou enviado para lixão sem o devido controle de poluição”, explicou.

 

Ainda de acordo com o especialista, conforme as economias crescem, cresce a quantidade de lixo produzida e isso tem impacto no meio ambiente, na saúde, na degradação do solo e na emissão de gases de efeito estufa. “Esse lixo, embora esteja lá no lixão e você não vê, ele tem impacto, tem custo, externalidades, que traduzindo para o mundo real, é o custo da Prefeitura, de cuidar do lixo que eu jogo na lata do lixo na rua”, alertou.

 

Estudo

 

Foi com base nesse levantamento, de acordo com ele, que surgiu a ideia de encontrar uma cidade que possa aplicar o que está sendo recomendado pela ONU, para ver se faz sentido. Para isso, foi feito um mapeamento no Brasil, pela agenda ambiental local, e Birigui se enquadrou, por ter gestão de resíduos problemática e pelas autoridades locais terem apresentado uma aceitação muito positiva à iniciativa.

 

Porém, ele deixou claro que a comunidade em geral tem papel fundamental nesse processo, já que o lixo é responsabilidade de todos. “A nossa proposta é tratar o lixo de forma diferente; se tratado com carinho, é um recurso. Quando o lixo passa a ser um recurso, os investidores precisam vê-lo como uma oportunidade de negócio. A gente quer que vocês façam isso para ter lucro, gerar empregos”, disse ao público presente.

 

Coleta seletiva

 

Segundo Dall, uma das tarefas que precisa ser tratada como prioridade em Birigui é a implantação da coleta seletiva. “Para resolver o problema, ter mais caminhão e aterro é insustentável, é inviável. Primeiro tem que diminuir a quantidade de resíduo, aumentar a reciclagem e a coleta seletiva, para que esses recursos não sejam mais lixo e sejam utilizados por entidades locais para outras atividades econômicas. Fazendo isso, você está diminuindo a pressão lá no aterro”, explicou.

 

E como possibilidades econômicas, ele apontou a geração de plásticos secundários, a indústria de supermadeira feita com parte dos resíduos da construção civil e cursos de formação de profissionais na gestão de resíduos. “Se vocês querem que o Brasil, São Paulo, Birigui se desenvolvam, a educação tem que fazer parte disso”, destacou.

 

O projeto também prevê intervenção no próprio aterro sanitário de Birigui, tentando apontar caminhos para ter um aterro com os devidos controles de poluição e os mecanismos para geração energética, que é o biogás. “Então o que a gente vai fazer é tentar consolidar todos esses aspectos, com uma estratégia de implementação e também de investimentos, para que ao longo dos anos, a realidade de gestão de resíduos local possa mudar”, afirmou.

 

Análise do projeto será apresentada em evento da ONU durante a COP-30

 

De acordo com Felipe Dall, atualmente está sendo feito o diagnóstico da realidade local, com o levantamento das informações sobre como foi a gestão de resíduos em Birigui nos últimos 20 anos, com relação às licenças ambientais. “Estamos levantando a quantidade de resíduos gerados por dia, quais os tipos de resíduos e a partir dessa análise inicial é que vai ser definida como essa estratégia será estruturada”, informou.

 

O resultado dessa análise deve ser apresentado em 6 de novembro, em um evento realizado pela ONU durante a COP-30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), no Rio de Janeiro. A partir do diagnóstico inicial e serão avaliados os caminhos que serão utilizados para desenhar a estratégia.

 

“Em novembro a gente vai ter o diagnóstico inicial. Então o doutor vai bater o raio x, vai olhar o raio x e dizer: a gente vai fazer isso, isso e isso. Talvez sejam necessários mais exames, mas a gente vai ter uma boa ideia do que a gente vai propor aqui”, informou, comparando esse diagnóstico a um procedimento médico.

 

Planejamento

 

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Birigui, Carlos Farias, reforçou que a administração municipal tem essa preocupação com a destinação dos resíduos sólidos e do tratamento de esgoto, o que também é uma preocupação das empresas que querem se instalar na cidade.

 

Diante das cobranças da Cetesb (Companhia Ambiental de São Paulo), ele aproveitou o evento da ONU em São Paulo para apresentar a situação crítica de Birigui, que não possui coleta seletiva, enfrenta situação precária no transporte de resíduos e não possui ecopontos, apesar de ser uma cidade empreendedora, com grande geração de empregos.

 

A prefeita Samanta Borini (PSD) comentou que ser selecionada para sediar esse projeto pioneiro é um presente que Birigui está ganhando. Porém, explicou que a comunidade também precisa fazer a parte dela. “Mais uma vez chamo vocês para virem juntos, para colocarmos isso em prática”, reforçou.

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