O médico coordenador da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante da Santa Casa de Araçatuba (SP), Rafael Saad, informa que a elevada taxa da recusa familiar à doação de órgãos é o principal obstáculo para efetivação da doação na maioria dos Estados.
Em nota, a assessoria de imprensa da Santa Casa indorma que segundo dados de junho de 2023 da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), a taxa de recusa nacional é de 49%. Segundo Saad, isso representa que a cada dois pacientes com morte encefálica confirmada, só um tem os órgãos doados por autorização da família.
Ainda de acordo com ele, levando em consideração o período da reestruturação da Comissão Intra-Hospitalar de Transplantes, ocorrida em 2015, até a agosto de 2023, a taxa de recusa para doação de órgãos na Santa Casa de Araçatuba é de 21%, ou seja, bem inferior à média nacional.
Comissão
Setembro é o mês de conscientização e incentivo para a doação de órgãos e a Comissão Intra-Hospitalar de Transplantes tem papel fundamental nesse processo. Ela tem como atividades básicas a realização de busca ativa de potenciais doadores, que são os pacientes em uso de ventilação mecânica e sem resposta neurológica.
Os integrantes dessa comissão auxiliam no diagnóstico de morte encefálica, que é realizado através de protocolo rígido, avaliado por dois médicos diferentes, além de exame complementar com confirmação da ausência de qualquer atividade cerebral. A realização de um protocolo de investigação de morte encefálica envolve o apoio de vários médicos do corpo clínico do hospital.
A comissão também entrevista os familiares do possível doador, esclarece dúvidas e apresenta a opção da doação. A comissão, também colabora com a manutenção do doador, com a ajuda de aparelhos, até a chegada das equipes que realizarão a captação dos órgãos.
Evolução
Saad comenta que após a reestruturação do serviço, houve aumento significativo na captação de órgãos na Santa Casa de Araçatuba, já que no período de 2007 a 2014, o hospital registrava média de uma doação por ano, de acordo com ele.
“No período de 2015 a 2022 tivemos média de 13 doações de múltiplos órgãos por ano. Em 2023, até o mês de agosto, tivemos seis doações de múltiplos órgãos e uma doação de córnea de paciente falecido por parada cardíaca”, informa.
As captações realizadas até agosto totalizam 12 rins, 4 fígados, 2 pulmões, 14 córneas, 4 corações para valvas cardíacas e uma doação de ossos, beneficiando mais de 40 pacientes.
Espera
Nesta segunda-feira (18) foram captados rins, fígado e córneas de um doador de 61 anos, que estava em tratamento na Santa Casa de Araçatuba e teve a morte encefálica constatada. Graças à autorização da família, os órgãos captados devem beneficiar cinco pessoas que aguardam na fila para transplantes.
Ainda segundo a ABTO, em junho deste ano havia 57.347 pacientes adultos na lista de espera nacional, 18.733 no Estado de São Paulo. O rim é o órgão com maior demanda dentre os pacientes que aguardam por transplante, somando 31.541 pacientes no País, dos quais, 1.175 são crianças.
“Por tudo isso, reforçamos a importância da comunicação entre os familiares sobre a vontade de ser um doador de órgãos, pois apenas com o consentimento familiar é possível realizar a doação”, finaliza Saad.