Tomar água e fazer xixi: duas necessidades tão comuns às pessoas foram redescobertas pelo comerciante de automóveis Mario César Boanarotti, 63 anos, logo após ter recebido um dos rins de um doador em morte encefálica.
Ficar livre das máquinas de hemodiálise, às quais ele precisava recorrer três vezes por semana para filtrar o sangue, é o que ele considera o passaporte para uma nova vida. “Eu passava muito mal depois das sessões de hemodiálise e, muitas vezes, não conseguia trabalhar”, relembra Boanarotti.
A mudança no tom da pele, “para amarelado e depois acinzentado”, também assustava o comerciante. Diabético e hipertenso, no início de 2022 Boanarotti entrou para a estatística de pacientes com doença renal crônica que, de acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia, atinge mais de dez milhões de brasileiros.
Assim como os demais pacientes que aguardam por um transplante, a terapia substitutiva (hemodiálise e diálise peritoneal), dietas restritivas e medicações para problemas decorrentes da doença renal crônica são caminhos do tratamento enfrentados pelo comerciante, que dependia de sistemas artificiais de filtragem do sangue.
Vida nova
No caso de Boanarotti, ele precisou de pouco mais de um ano de tratamento até ser informado que faria o transplante. Segundo a Santa Casa, a compatibilidade, o quadro clínico e a agilidade para chegar ao Hospital das Clínicas de Botucatu contribuíram para a consolidação do que ele mais esperava receber na vida, um novo rim.
O hospital de Botucatu é referência para transplantes renais no interior paulista e o tão esperado telefonema aconteceu no início da noite de 12 de abril deste ano. " Eram 19 horas. Disseram que havia um rim compatível para mim, mas eu teria que chegar lá até no máximo as 23 horas, pois teria de fazer vários exames”, relembra o comerciante. Ele acrescenta que dentre a emoção do telefonema e tudo o que ainda tinha de arrumar, não sabia o que fazer primeiro.
Transplante
O transplante foi realizado na manhã do dia seguinte, sem intercorrências. Ultrapassado o período de possível rejeição do órgão transplantado, ele enfrentou um quadro de infecção, o que não é incomum aos transplantados. Porém, desde julho ele está liberado pelos médicos para viver uma rotina normal.
Boanarotti voltou nesta semana ao Hospital do Rim para agradecer ao médico que o acompanhou, às enfermeiras do setor e foi recebido com muitos abraços e palavras de encorajamento. Bem disposto e corado como há muito tempo não se via, tomando água à vontade e fazendo xixi novamente, ele recebeu os parabéns do nefrologista Guilherme Ugino, que integra a equipe médica do Hospital do Rim.
O comerciante só ficou triste ao visitar as salas de hemodiálise e rever os ex-colegas “de máquina” sendo submetidos às sessões. "Peço a Deus que cada um deles tenha a oportunidade de receber um rim, assim como eu recebi", comentou.
Doador
Segundo a assessoria de imprensa do hospital, antes de ficar doente Boanarotti já pensava em ser doador de órgãos, ideia que foi reforçada após ser beneficiado com um rim transplantado. “E não estou sozinho; meus filhos, esposa e noras também já declararam que são doadores”, conta.
“Desejo tudo de melhor para os familiares que autorizaram a doação dos órgãos de seu ente querido. Sem isso, eu estaria tão ou mais doente do que estava. Sei que essa pessoa (o doador) está feliz pelo ato tão nobre para outras pessoas. Ele está feliz lá no céu, e eu estou feliz aqui com a minha família”, afirma, emocionado.
Por fim, ele comenta que todas as pessoas deveriam ser doadoras de órgãos para trazer vida para quem precisa de um transplante.