A Polícia Civil de Araçatuba (SP) não descarta a possibilidade de que Dejair Félix da Silva, 48 anos, que foi assassinado com golpes de cabo de martelo, enxadão e mais de 120 facadas, tenha sido vítima de um crime passional.
O autor confesso do homicídio tem 35 anos e foi preso temporariamente no início da manhã desta sexta-feira (20) na residência onde mora, no bairro Hilda Mandarino, por equipe da DH/Deic (Delegacia de Homicídios da Divisão Especializada de Investigações Criminais).
Segundo o delegado Paulo Natal, responsável pelo inquérito, o acusado, apesar de ter confessado, negou que mantivesse algum relacionamento homoafetivo com a vítima. Ele alegou que os dois não tiveram nenhum tipo de briga e que apenas teria reagido após receber um tapa no rosto.
Ainda de acordo com o que foi informado, Silva era catador de recicláveis e morava em uma residência na rua Aristides Troncoso Peres, onde o corpo foi encontrado por volta das 22h do dia 9 deste mês. O autor o auxiliaria nessa atividade.
Segundo a polícia, também residia na casa a companheira dele e um amigo. A enteada da vítima estava de férias e passava uns dias no imóvel, enquanto o autor do assassinato fazia cerca de uma semana que também estaria residindo no local. Ainda de acordo com a polícia, o imóvel era frequentado por usuários de drogas.
Violência
O que chamou a atenção nesse caso, segundo o delegado, foi a brutalidade do crime, já que a vítima foi atingida por mais de 139 golpes, sendo 13 na face, cinco na região do tórax, um no pescoço e mais de 120 nas costas. “Isso nos chamou a atenção, mostrar muita raiva da pessoa que o agrediu”, contou o delegado durante entrevista coletiva após a prisão.
Ainda de acordo com ele, em conversar com testemunhas foi informado que dentre as pessoas que costumavam frequentar a casa, a única que havia desaparecido seria o investigado. Testemunhas também comentaram que suspeitavam que o morador na casa e o autor manteriam um relacionamento homoafetivo.
Inclusive, uma pessoa teria ouvido algum tempo antes do crime Silva dizer ao autor que não queria mais nada com ele e cada um teria que viver a sua vida. A vítima também teria relatado a outra testemunha que havia sido ameaçada pelo autor. “A gente entendeu que o excesso de facadas realmente demonstrava, evidenciava um crime passional”, comentou o chefe da investigação.
Sem arrependimentos
Outro fato que chamou a atenção da polícia foi que o autor em nenhum momento demonstrou arrependimento pelo crime. Segundo o delegado, ao ser preso, no início da manhã, ele não teve nenhum tipo de reação e imediatamente confessou ter assassinado a vítima.
“Ele negou que tivesse uma relação homoafetiva com o Dejair e ele justifica que ele matou a vítima com bastante golpes de faca, de enxadão e de cabo de martelo, porque a vítima teria dado um tapa na cara dele, sendo que disse que a mãe dele (autor) era sapatão (sic)”, contou o delegado.
Surpresa
O relato do investigado, segundo Natal, sobre a dinâmica do crime, confere com as evidências apontadas durante a perícia, que encontrou o corpo em um colchão na sala. A suposta agressão teria ocorrido enquanto o acusado estaria sentado no sofá e a vítima no colchão.
“A vítima estava deitada na casa, o que as evidências encontradas no local indicavam mesmo. Ele foi até o rack da sala, se apoderou do cabo do martelo, desferiu vários golpes na cabeça da vítima, que não se levantou da cama. Ele foi até à cozinha (onde teria pego a faca), virou a vítima de bruços e desferiu um monte de golpes também nas costas da vítima, que caiu”, conta.
Ainda de acordo com o delegado, o autor contou que após as facadas, ele pegou o enxadão que estaria no quintal da residência e o utilizou para golpear a cabeça de Silva, no intuito de confirmar que ele estaria morto. “Ele não soube precisar quantos golpes deu, ele fala que foram muitos", disse .
Segundo o delegado, o investigado confirmou que estava com raiva mesmo e chamou a atenção da polícia que ao ser questionado, ele falou que não estava arrependido. "Eu perguntei se ele não tinha dó e ele falou que não tem dó de quem está morto”, contou o delegado.
Familiares do autor estiveram na casa após o crime
A Polícia Civil de Araçatuba descarta a possibilidade de outras pessoas terem participado do assassinato de Dejair Félix da Silva. Segundo o delegado Paulo Natal, o autor confesso do crime, que foi preso nesta sexta-feira, disse que após o assassinato deixou o local com a bicicleta da vítima, a qual não foi encontrada e ele não soube dizer onde a deixou.
Em seguida, ele teria ido direto para a casa da mãe dele. “Ali ele chegou com a mão cheia de sangue, ele relatou aos familiares que havia matado o Dejair, os familiares não acreditaram, mas ele falou que era verdade e os familiares resolverem ir à casa do Dejair para checar”, contou.
Imagens obtidas pela polícia mostram que após o crime, familiares do investigado foram ao imóvel, onde permaneceram por cerca de 40 segundos e saíram em seguida, quando o autor já não estava no local. “Eles entraram, estava sem luz a casa, iluminaram com o celular e já viram a vítima ensaguentada e caída no chão da sala e foram embora”, informou.
Após ser ouvido, o investigado foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal) para exame de corpo de delito e seria encaminhado à cadeia de Penápolis, onde deve permanecer até a conclusão do inquérito. A polícia ainda aguarda os laudos da perícia e do exame necroscópico realizado no corpo da vítima.