Polícia

Patrick afirma ter hackeado mais de 300 pessoas em um ano

Réu confesso por invadir dispositivos e extorquir o prefeito de Araçatuba, ele falou para uma comissão na Câmara de Bauru, onde também é investigado por espionar uma vereadora e um jornalista
Lázaro Jr.
28/12/2023 às 10h39

O hacker Patrick César da Silva Brito, 30 anos, de Araçatuba (SP), disse nesta quarta-feira (27) em depoimento para a Câmara de Bauru, que em um ano hackeou mais de 300 pessoas. Ele está em liberdade provisória desde a última sexta-feira (22), após passar 1 ano preso na Sérvia, por força de mandado de prisão preventiva da Justiça de Araçatuba.

 

Patrick confessou ter invadido dispositivos do prefeito de Araçatuba, Dilador Borges (PSDB), e da primeira-dama, Deomerce Damasceno, e ter cobrado R$ 70 mil para devolver e-mails e as redes sociais de ambos, configurando também o crime de extorsão.

 

Entretanto, segundo o próprio hacker, essas não foram as únicas autoridades que tiveram dispositivos invadidos por ele. "Quando eu estava na ativa, eu hackeava mais de uma pessoa por dia. Eu hackeei num ano todo, mais de 300 pessoas", afirmou ao ser ouvido por uma comissão temporária da Câmara de Bauru.

 

Essa comissão investiga a invasão de dispositivos de uma vereadora, que ficou mais de um mês sem a rede social dela, e de um jornalista na cidade. Patrick afirmou que hackeou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), quando ele ainda era deputado federal, em 2018, e também quando já era presidente, em 2020, quando teria vazado o celular dele em uma rede social.

 

O hacker alega que nessa época morava em Florianópolis e teria inclusive recebido a visita de agentes federais. “Ali que eu comecei a planejar sair do País, foi quando eu renovei meu passaporte”, disse. Porém, afirmou que após esse episódio foi para Brasília e hackeou o celular e o Facebook do ex-presidente Hamilton Mourão.

 

Ele disse que ficou um bom tempo com a rede social do ex-vice-presidente e também recebeu mensagem de um capitão do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), pelo Facebook de Mourão, mas que na ocasião, já havia salvo todos os dados dele. “Minha mudança para a Sérvia foi porque quando eu tinha hackeado o Mourão e o Bolsonaro eu tinha medo de ser preso, então eu comecei a planejar essa mudança”, afirmou.

 

Araçatuba

 

Os crimes foram cometidos ometidos contra o prefeito de Araçatuba ocorreram no final de 2020, mas foram registrados por Dilador na delegacia no começo de 2021. Foi quando a polícia cumpriu mandados de busca em endereços ligados ao hacker e apreendeu R$ 10 mil em dinheiro, aparelhos eletrônicos e o passaporte do investigado.

 

Ao ser ouvido ele confessou os crimes, teve os bens restituídos pela polícia e após ser liberado, deixou o Brasil. O inquérito teve sequência e a Polícia Civil representou pela prisão preventiva dele por ter constatado que ele continuava cometendo os mesmos crimes contra vítimas no Brasil, mesmo estando morando fora do País.

 

Bauru

 

Ao ser ouvido na Câmara de Bauru, o hacker afirmou que passou a hackear o jornalista Nelson Itaberá entre o final do primeiro semestre e início do segundo semestre de 2021, quando já estava na Sérvia, e a vereadora Estela Almagro (PT), entre o final de 2021 e início de 2022.

 

Ele afirmou ter sido contratado por um cunhado da atual prefeita de Bauru, Suéllen Rosim (PSD), e que teria cobrado R$ 10 mil pelo serviço. Entretanto, teria concordado em receber apenas R$ 1,5 mil, sendo R$ 1 mil pelo crime contra a vereadora R$ 500,00 pelo crime contra o jornalista.

 

Apesar das afirmações, Patrick informou que não possui trocas das supostas conversas trocadas com o suposto contratante dos serviços, pelo WhatsApp, sob argumento de que protegeria as pessoas para quem trabalha. Ele disse que já solicitou ao provedor do e-mail dele que mande o relatório das mensagens enviadas na época, que comprovará que enviou documentos ao suposto contratante. Porém, assim como acontece com as conversas, ele não tem o conteúdo dos e-mails para ser apresentado.

 

“Fica parecendo que eu tenho que provar tudo, como se as autoridades não tivessem que fazer nada... ... Eu não tenho condições de fornecer todos os elementos de prova, eu ofereci muitos caminhos, o que é uma coisa que nenhuma pessoa normal faz, agora eu preciso que as autoridades façam o trabalho delas e preciso ser ouvido, porque as pessoas se negam a me ouvir”, alegou.

 

Dossiê

 

O hacker disse ainda que foi ele relatou o caso de Bauru, ao citá-lo no dossiê que elaborou para apresentar com o pedido de delação premiada que pretendia propor à Polícia Federal, por orientação do advogado dele na época. Entretanto, esse mesmo advogado teria mandado cancelar a proposta, sem o consentimento dele, que só teria tomado conhecimento disso posteriormente.

 

Patrick disse ainda que responde a nove inquéritos na polícia e não teria sido ouvido em nenhum deles. O hacker comentou que o advogado chegou a peticionar nos inquéritos que tramitam em Araçatuba que ele prestasse depoimento, mas antes que pudesse ser ouvido ele foi preso na Sérvia.

 

Por fim, relatou que o Supremo Tribunal em Belgrado já decidiu pela extradição dele, que aguarda decisão de recurso apresentado contra a negativa de conceder asilo a ele na Sérvia. Patrick declarou que não quer voltar para o Brasil, mas não quer ficar fugindo a vida toda e nem ser o único penalizado pelos crimes que cometeu a mando de outras pessoas.

 

Vereadora

 

A vereadora Estela Almagro, que teve as redes sociais hackeadas por Patrick, se manifestou durante a sessão e se demonstrou indignada com a situação, estando diante do autor do crime. “Meu lado republicano grita. Não tenho nenhuma pergunta. Não tenho nenhuma pergunta pro Patrick. Só queria deixar claro que não vejo ele como herói”, comentou. 

 

“Me preocupa muito, não só como cidadã, mas como advogada e como vereadora, que a gente tenha que dar palco para um criminoso, que foi contratado por outro criminoso, para romper com todos os critérios, com todos os princípios que devem reger a boa relação entre os Poderes”, acrescentou.

 

A parlamentar disse ainda ser extremamente constrangedor para o Poder Legislativo ter que ouvir Patrick, afirmando que a delação tem se transformado “no recurso dos canalhas, deixando cada vez mais claro que não há ética entre bandidos”.

 

Por fim, a parlamentar contou que teve que recorrer à Justiça para poder reaver as redes sociais dela. “Graças a Deus e ao meu conhecimento, nós superamos o banditismo praticado pelo Patrick... A Justiça foi o mecanismos para eu reaver as minhas páginas e as minhas redes sociais, democraticamente, esse é o caminho, o da Justiça”, argumentou.

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