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Os computadores vivos chegaram e já estão à venda

"Essa inovação representa um marco e tanto na história da computação e pode remodelar totalmente o que conhecemos sobre processamento de dados e, principalmente, inteligência artificial"
Da Redação
13/07/2025 às 10h19
Imagem gerada por MetaAI, com prompt do autor Imagem gerada por MetaAI, com prompt do autor

Por Cassio Betine

 

Imagine uma máquina computacional que processa dados através de neurônios humanos vivos. Por mais estranho que isso possa parecer, essa tecnologia já existe — e está à venda no mercado (o preço ainda é meio salgado, mas como toda tecnologia, o barateamento está na escala de produção).

 

Desenvolvido pela startup australiana Cortical Labs, o CL1 é o primeiro computador híbrido que une células cerebrais humanas cultivadas em laboratório com circuitos de silicone. Essa inovação representa um marco e tanto na história da computação e pode remodelar totalmente o que conhecemos sobre processamento de dados e, principalmente, inteligência artificial.

 

O funcionamento dessa máquina é fascinante. São cerca de 800 mil neurônios vivos cultivados sobre uma placa de silicone, formando uma rede biológica que interage com os componentes eletrônicos do sistema. E se são “coisas” vivas, como são alimentadas? Aí que tá o segredo.

 

Para manter essas células vivas e viáveis, o computador conta com um sistema de suporte de vida que controla a temperatura e fornece nutrientes continuamente por até seis meses. Mas o que realmente surpreende é a capacidade que esses neurônios demonstram de aprender e se adaptar a estímulos externos — algo que os computadores tradicionais só conseguem simular com algoritmos sofisticados e consumo energético altíssimo.

 

Em testes conduzidos em 2022, o tal CL1 aprendeu a jogar o clássico Pong (um dos primeiros videogames da Atari, lançado na década de 70) — e em poucos minutos, reorganizou sua rede neural para dominar o jogo. Isso revelou um potencial extraordinário: neuroplasticidade em chips.

 

Os pesquisadores descobriram como “conversar” com os neurônios por meio de impulsos elétricos, inserindo sinais e interpretando as respostas em tempo real com ajuda de camadas de firmware e hardware. O resultado é um sistema autônomo, capaz de raciocinar e evoluir conforme interage com o mundo.

 

Outra vantagem desse tipo de tecnologia está na eficiência energética. Enquanto centros de dados tradicionais consomem dezenas de quilowatts para sustentar sistemas de IA, os processadores vivos consomem entre 850 e 1000 watts. Isso representa uma economia significativa — e abre portas para um futuro mais sustentável em computação. Pense na duração do processador do seu celular, por exemplo, que é um dos componentes que mais consomem energia. A duração da bateria aumentaria muito, mas muito mais.

 

Quanto aos tipos de aplicações, vão muito além da inteligência artificial. Na medicina pode ser usada para estudar doenças neurológicas complexas, como Alzheimer e epilepsia, com respostas biológicas reais em tempo real. Na indústria farmacêutica, vai oferecer uma plataforma para testar medicamentos neuropsiquiátricos com precisão e segurança. E na tecnologia da informação, abre um gigantesco caminho para sistemas adaptativos que reagem ao ambiente sem necessidade de reprogramação manual. Bem maluco nisso, e claro, bem assustador também.

 

A tal Cortical Labs, junto da empresa britânica Bit Bio, já comercializa unidades do CL1 por cerca de 35 mil dólares. É caro, mas para quem deseja apenas acessar sua potência computacional, há uma versão em nuvem chamada Cortical Cloud, disponível por assinatura semanal. 

 

O futuro desse negócio, segundo os criadores do projeto, envolve o crescimento exponencial no número de neurônios. Se produzir 100 mil células foi difícil, gerar 100 milhões é apenas uma questão de escala — porque a biologia cresce exponencialmente, afirmam.

 

E é aí que vem a parte realmente provocadora: com o tempo, e com redes neurais biológicas cada vez mais sofisticadas, máquinas poderão ultrapassar as capacidades cognitivas humanas. Isso não é apenas uma especulação científica; é um projeto de engenharia em andamento. Um sistema que aprende, evolui e responde como nós — só que sem as limitações da biologia humana, e potencialmente com muito mais eficiência.

 

Meus amigos, estamos sim, testemunhando o nascimento de uma nova forma de inteligência! E talvez, no futuro, os cérebros mais avançados não estarão dentro de nós — mas em máquinas orgânicas, cultivadas em laboratório, que pensam por si mesmas.

 

*Cassio Betine é head do ecossistema regional de startups, coordenador de meetups tecnológicos regionais, coordenador e mentor de Startup Weekend e pilot do Walking Together. Cássio é autor do podcast Drops Tecnológicos

 

**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação

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