Câmeras flagraram movimentação no interior da caminhonete enquanto ela estava parada (Foto: Reprodução)
A mulher de 25 anos que acompanhava o juiz aposentado de 61 anos, que atropelou e matou a garçonete Thais Bonatti de Andrade, 30, em 24 de julho, em Araçatuba (SP), poderá ser indiciada pela Polícia Civil por participação no crime.
A informação foi divulgada pelo delegado Guilherme Melchior Valera, responsável pelo inquérito, em entrevista divulgada na reportagem sobre o caso, no último domingo (3), no programa Fantástico, da Rede Globo.
Na mesma reportagem, foi lida nota da defesa da jovem, negando qualquer participação dela no atropelamento. Também foram exibidas imagens de câmeras de monitoramento, que mostram que antes do atropelamento, a caminhonete parou na avenida João Arruda Brasil, vindo da rua Porangaba.
Enquanto o veículo está parado, é possível ver uma movimentação entre os ocupantes. No boletim de ocorrência do atropelamento consta que nesse momento, a passageira sobe no colo do condutor, que volta a trafegar e passa sobre a bicicleta da vítima.
Troca
Ao ser ouvida após o crime, a passageira contou à polícia que o juiz aposentado teria pedido a ela que assumisse a direção do veículo, sob argumento de não estaria se sentindo bem. Ela afirmou que os dois tentaram fazer a troca de condutor, com o veículo ainda em movimento.
Ainda de acordo com a mulher, nesse momento eles não teriam visto a ciclista, que havia ultrapassado a caminhonete pela esquerda momentos antes, como mostram imagens de câmeras de monitoramento, ocorrendo o atropelamento.
Beberam
A mulher relatou em depoimento que o juiz aposentado a havia buscado na casa dela por volta das 23h de quarta-feira (23) e os dois seguiram para a boate, que fica na avenida Mário Covas. De acordo com ela, eles beberam um pouco no estabelecimento.
Segundo a acompanhante do juiz, na mesa em que o casal estava foi servido uísque, champanhe, cervejas e drinks. Ela alegou não saber se houve consumo de algum tipo de entorpecente por parte do investigado.
Ainda segundo a acompanhante, os dois permaneceram na boate até a manhã posterior, tendo deixado o local por volta das 10h. A mulher disse ainda que o juiz aposentado iria levá-la para a casa dela com a caminhonete quando aconteceu o atropelamento.
Contramão
Em depoimento, a passageira relatou que o proprietário da boate havia se oferecido para chamar um motorista por aplicativo, ao constatar que o juiz aposentado estava alcoolizado. Ele também teria sugerido que o cliente dormisse no local, o que foi negado, na versão dela.
Após deixarem a boate com a caminhonete, tendo o juiz aposentado na direção, ele trafegou pela contramão de direção por um trecho de uma rua, segundo a passageira, o que foi confirmado por imagens de câmeras de monitoramento obtidas pela polícia.
Ainda de acordo com ela, apesar de estar alcoolizado, o investigado fez todo o trajeto com a caminhonete em velocidade baixa e também estava em baixa velocidade quando aconteceu o atropelamento.
Por fim, a mulher afirmou que pediu ao juiz que parasse assim que percebeu o impacto com a bicicleta e que houve aglomeração de pessoas. Segundo a passageira da caminhonete, a vítima estava muito ferida, pois gritava bastante, mas ela não chegou a vê-la de perto.
Juiz negou que tivesse pedido para trocar de condutor da caminhonete
Em depoimento à polícia, o juiz aposentado contestou a versão apresentada pela passageira e negou que tivesse pedido a ela para trocar de lugar com ele na direção do veículo. Sobre o atropelamento, ele alegou que não viu a ciclista, acreditando que ela tenha entrado em um ponto cego do lado direito do veículo.
O investigado disse que tomou apenas duas cervejas no período em que esteve no “barzinho”e que várias horas depois, tomou os medicamentos controlados dos quais faz uso, para o tratamento de depressão.
Disse ainda que tais medicamentos não atrapalham na direção de veículos e quando os toma, não faz uso de álcool. “Foi assim de noite e fiquei um pouco mais no barzinho, mas não tomei mais nada”, disse, confirmando que estava levando a acompanhante, que identificou como amiga dele, à casa dela, quando ocorreu o atropelamento.
O juiz aposentado alegou que em momento algum foi oferecido a ele o bafômetro e afirmou que não recusou o exame, acreditando que devido ao tumulto, pode não ter havido tempo de fazer o procedimento.
Embriaguez
Apesar da versão do investigado, o policial militar que apresentou a ocorrência relatou em depoimento que o condutor da caminhonete apresentava sinais de embriaguez e que foi oferecido o teste com o bafômetro, que foi recusado.
Ainda de acordo com o policial, um juiz que esteve no local para acompanhar a ocorrência estava presente e inclusive acompanhou o momento em que foi oferecido e recusado o teste do bafômetro.
O caso é investigado como homicídio culposo (sem intenção) na direção de veículo, agravado pelo uso de álcool pelo condutor. O juiz aposentado foi preso em flagrante, mas obteve a liberdade provisória durante a audiência de custódia, realizada na manhã seguinte. A passageira da caminhonete foi ouvida e liberada na ocasião.