Polícia

Conversas ligam representantes do PP de Araçatuba a chefe do tráfico

Homem que seria membro do PCC foi preso em maio teria organizado a viagem de Araçatuba para Brasília para manifestação contra a saída temporária; no celular apreendido com ele foram recuperadas mensagens tratando da locação do ônibus diretamente com os representantes do partido político
Lázaro Jr.
25/09/2024 às 19h52

Mensagens encontradas no celular de um homem de 29 anos, preso no início de maio, e que é apontado como membro do PCC (Primeiro Comando da Capital) e chefe do tráfico de drogas no bairro Mão Divina, em Araçatuba (SP), ligam representantes do partido político Progressistas de Araçatuba (SP) à locação do ônibus que, segundo a polícia, saiu de Araçatuba no dia 28 de abril para uma manifestação contra o fim da saída temporária, que aconteceu no dia 29, em Brasília (DF).

 

Foi com base nessas informações que foram realizadas as buscas com ordem da Justiça em endereços ligados a três homens que teriam relação com o PP, que tem candidato concorrendo a prefeito nas eleições municipais deste ano. Essas buscas aconteceram no âmbito da  "Operação Ligações Perigosas", deflagrada no dia 6 de setembro, em conjunto entre a Polícia Civil e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público.

 

A operação é considerada uma das maiores já realizadas a partir de investigação feita em Araçatuba, sendo expedidos 35 mandados de prisão e 104 de busca e apreensão. Um dos objetivos é apurar possível infiltração do PCC na política em Araçatuba, conforme foi informado em entrevista coletiva pelas autoridades, logo após serem cumpridos os mandados de busca.

 

Segundo o que foi apurado pela reportagem, atendendo pedido da Polícia Civil, nesta semana a Justiça tirou o sigilo externo do inquérito, permitindo o acesso às partes. Como o caso ainda está em investigação, sem indiciamentos ou apresentação de denúncia, não serão divulgados nomes de investigados. 

 

Grupo no WhatsApp

 

O suposto "líder do tráfico de drogas" no bairro Mão Divina foi preso em flagrante por posse irregular de arma de fogo em 3 de maio, após investigação da Deic (Divisão Especializada de Investigações Criminais) da Polícia Civil de Araçatuba. 

 

Com ele também foram apreendidos dois celulares e a reportagem apurou que ao analisar um desses aparelhos, a polícia encontrou um grupo de WhatsApp formado por supostos integrantes do PCC e demais pessoas que participaram da manifestação ocorrida em Brasília.

 

Ainda de acordo com a investigação, a ação teria sido organizada pela própria facção criminosa, sendo o suposto chefe do tráfico preso dias depois, o responsável pela organização dos ônibus que partiram de Araçatuba e de Assis, que pertecem à "Região 018" da facção.

 

Água

 

Foi também na análise desse aparelho que foram encontradas mensagens que tratam da doação de 96 copos de água que teria sido feita pelo vereador Antônio Edwaldo Costa (União Brasil), os quais foram servidos no ônibus, que partiu de Araçatuba na tarde de 28 de abril, levando 45 passageiros. Os copos de água teriam sido retirados em um prédio na avenida Saudade, onde já funcionou a sede da Associação dos Investigadores da Policia Civil de Araçatuba.

 

Esse imóvel seria de responsabilidade de Dunga, que também foi alvo de mandado de busca e apreensão e foi preso em flagrante durante a operação, pois a polícia encontrou uma arma com numeração raspada na casa dele. O parlamentar deixou a prisão no dia seguinte, em audiência de custódia, após pagar fiança de R$ 4,7 mil.

 

Locação de ônibus

 

Ainda de acordo com a reportagem, a polícia resgatou mensagem enviada pelo dono do celular apreendido para uma pessoa que seria ligada ao Partido Progressista em Araçatuba, cujo nome não aparece entre os integrantes da legenda. Nela, o suposto chefe do tráfico reclama que não estava conseguindo contato para confirmar o contrato de locação dos ônibus e estaria sendo cobrado por isso:

 

"Vocês me pediram vinte e quatro hora ai vamo embora, fez eu cancelar lá os dois busão que tava em andamento meu lá entendeu mano, eu levei ao conhecimento de vocês que era quinze mil cada um, que eu podia fica tranquilo que relacionado ao Busão tava resolvido, pra da ok entendeu mano. Minha caminhada já tava tranquilo os dois Busão entendeu mano no hoje ai to ligando várias vezes pro ce ai entendeu véi. nem o XXX (um dos investigados) ta me atendendo lá entendeu mano, eu memo to prestando conta com um amigo que é competente acima de mim que o xxx sabe como é que funciona certo mano..." , consta em trecho de mensagem transcrita pela investigação.

 

Confirmou

 

No dia seguinte, a pessoa que seria ligada ao PP responde que a contratação do ônibus que sairia de Araçatuba estava confirmada e sugeriu um local para embarque dos passageiros. Para a polícia, essa pessoa seria o intermediário entre o organizador da viagem e os outros dois investigados ligados do partido:

 

"O irmãozão só pra esclarecer ai é esse eu to te pedindo local do primeiro buzão, o buzão que ta confirmado ta o buzão que ta confirmado então são quarenta e cinco lugares e o interessante seria o ponto de saida na cidade tipo Praça Olimpica ali onde os Onibus de turismo normalmente saem sacou. O outro ainda não ta confirmado ta só pra esclarecer e depois não ter divergencia na conversa vamo acerta primeiro esse ai", consta em outra mensagem recuperada pela polícia.

 

Outros investigados

 

Um dos homens que tem o nome oficialmente relacionado ao PP e que foi alvo de mandado busca durante a "Operação Ligações Perigosas", foi nomeado tesoureiro na comissão provisória do partido político, no início de fevereiro, quando a comissão foi assumida por Filipe Fornari, que na ocasião era apenas pré-candidato a prefeito.

 

Durante a Convenção Municipal do Partido/Federação 11-PP, realizada em 30 de julho, quando o nome dele foi confirmado, o então tesoureiro teve o nome indicado para ser um dos delegados do partido. Consta na Ata da convenção, que a indicação foi aprovada por unanimidade, assim como a indicação de outro delegado, que é o segundo alvo de mandado de busca durante a operação ligado oficialmente ao PP.

 

Contrato

 

A reportagem apurou que a polícia recuperou no celular do suposto chefe do tráfico, uma mensagem em que a pessoa que foi chamada a atenção por conta da demora na locação do ônibus, informa que recebeu do então tesoureiro do PP, a cópia do contrato de locação do ônibus, e que estava repassando o documento: “Fala XXX (dono do celular) beleza o cara o contrato do Onibus que a gente falou lá ficou pronto agora o cara acabou de me mandar ai e o XXX (outro investigado) acacou (acabou) de me repassar ai eu to te repassando ai beleza, esse é o contrato ai que a gente firmou ontém la”.

 

Na mensagem seguinte, ele informa que a partir de então, quem iria negociar seria o outro homem que depois foi nomeado delegado do PP: "outra coisa que eu vou te falar é o seguinte é apartir de agora você fala com o XXX (segundo investigado) ta eu to saindo fora dessa negociação eu vou tomar conta de outras frentes aqui então apartir de agora com relação ao Onibus é com o XXX beleza é to em outras parada ai beleza irmão”.

 

Tesoureiro

 

Também foram recuperadas mensagens trocadas pelo suposto chefe do tráfico de drogas com o então tesoureiro da comissão provisória do Progressistas, tratando da locação do ônibus que saiu de Araçatuba. Uma delas foi enviada a ele pelo suposto integrante do PCC no dia 26 de abril, ou seja, dois dias antes da viagem para Brasília.

 

Nela, ele informa que precisa do comprovante do depósito referente ao pagamento do ônibus, para incluir na contabilidade do PCC, relativa ao transporte:

 

“... o XXX (tesoureiro) o que que acontece meu amigo eu to precisando ai XXX urgente é o comprovante lá do deposito do Onibus lá que os ce pagou lá ta bom é urgente memo é só pra nós ponha no nosso fechamento aqui tudo certinho entendeu xxx não é por nada não é só pra nós ter um controle memo, que nós tudo tem um controle tudo certinho aqui...”.

 

O tesoureiro responde que o contrato e o recibo de pagamento havia sido enviado para o outro investigado, que depois foi nomeado delegado do partido, e em seguida envia foto de um ônibus com a mensagem: "ele chega por volta das 12h". Para a polícia, seria o investigado registrado como segundo delegado do PP de Araçatuba que teria apresentado os outros dois para o suposto líder do tráfico de drogas, com base nas várias mensagens recuperadas.

 

Financiamento

 

Ainda de acordo com o que foi apurado, a investigação apontou que o contrato de locação do ônibus foi feito em nome de um homem de 28 anos, que foi capturado na última quarta-feira (18) pela Polícia Militar no bairro Santana.

 

Ele era considerado foragido da Justiça por não ter sido encontrado durante a “Operação Ligações Perigosas”, quando também foi alvo de mandado de busca e de prisão. Além disso, é apontado como sendo o “braço direito” do suposto líder do tráfico e integrante do PCC em Araçatuba, preso em maio.

 

A investigação apontou ainda, que além do aluguel dos ônibus, o próprio PCC teria disponibilizado R$ 14 mil para custear as despesas da viagem, sendo R$ 7 mil para o ônibus que saiu de Araçatuba e R$ 7 mil para o ônibus que saiu de Assis. As pessoas que viajaram para Brasília teriam recebido R$ 300,00 cada para custear as despesas pessoais.

 

Inquérito

 

Com relação à locação do ônibus, as informações apontam que ela teria custado R$ 22.000,00. O que a polícia quer descobrir é a origem do dinheiro e se as pessoas que contrataram a empresa que levou os manifestantes de Araçatuba são integrantes ou simpatizantes do PCC.

 

A análise do material apreendido com os investigados durante a operação poderá contribuir com a investigação. Como já foi informado, com o tesoureiro do partido na época da viagem foi apreendido pouco mais de R$ 21 mil em dinheiro e um celular.

 

Do outro delegado do PP a polícia apreendeu um computador e um celular e com o terceiro investigado, que seria pessoa relacionada ao partido, mas não oficialmente, a polícia apreendeu um notebook, um celular, um pen drive e um cartão de memória.

 

Defesa

 

A reportagem falou com o advogado responsável pela defesa do então tesoureiro do PP e da outra pessoas que teria relação com o partido político e a informação é de que não fará nenhuma declaração, pois o caso segue em segredo de Justiça.

 

A reportagem não tem conhecimento sobre quem é o responsável pela defesa do segundo terceiro investigado.

 

O responsável pelo Jurídico do partido político não se manifestará.

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