A mulher de 25 anos que estava como passageira na caminhonete conduzida pelo juiz aposentado de 61 anos que atropelou e matou a garçonete Thais Bonatti de Andrade, 30, crime ocorrido em 24 de julho, em Araçatuba (SP), confirmou à polícia que ele pediu a ela que assumisse a direção do veículo.
A informação foi divulgada pelo delegado responsável pela investigação, Guilherme Melchior Valera, em entrevista coletiva concedida à imprensa ao término da reconstituição do crime, realizada na manhã desta quarta-feira (6).
Tanto o juiz como a acompanhante participaram da reprodução simulada dos fatos, que aconteceu na avenida João Arruda Brasil, no trecho da rotatória com a avenida Waldemar Alves, na frente do prédio da Cobrac.
O trânsito foi interditado pouco antes das 9h por agentes da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e a segurança do local foi feita por policiais do GOE/Deic (Grupo de Operações Especiais da Divisão Especializada de Investigações Criminais).
Os trabalhos foram realizados durante cerca de duas horas, tudo foi fotografado por equipe do Instituto de Criminalística e acompanhado por vários populares que pararam para assistir a movimentação.
Juiz
O primeiro a demonstrar o que teria acontecido naquela manhã foi o juiz aposentado. A caminhonete dele, que foi utilizada para a reconstituição, ainda está com um dano no para-choque dianteiro, causado pela colisão com a bicicleta de Thais.
Primeiro foram feitas imagens dele parado praticamente no meio da rua, ao lado do prédio onde funciona o depósito de um supermercado. Uma policial civil fez o papel da acompanhante dele durante a reconstituição.
Apesar de a caminhonete ter os vidros escuros e ele estar fechado, foi possível ver que em nenhum momento ela se mexeu, apesar de as imagens de câmeras de monitoramento gravadas naquele dia mostrarem que há uma movimentação da passageira momentos antes do atropelamento.
Depois, foi registrada toda a sequência dos fatos, incluindo o atropelamento de Thaís, representada por outra policial civil em uma bicicleta. A ação foi concluída com o juiz estacionando a caminhonete próximo ao portão de saída do estacionamento do supermercado.
Acompanhante
Concluída a parte do juiz, foi a vez da acompanhante dele demonstrar o que aconteceu naquela manhã, de acordo com a versão dela. Em depoimento, ela havia informado à polícia que o investigado pediu para que ela assumisse a direção do veículo por não estar se sentindo bem.
Ainda de acordo com ela, o atropelamento teria ocorrido enquanto essa troca era feita com a caminhonete em movimento. Na parte dela, um policial civil fez o papel do juiz aposentado e foi possível ver que, durante a reconstituição, a passageira segurou no volante, confirmando que ela teria tentado assumir a condução do veículo.
A reportagem apurou que durante a reconstituição, a passageira contou que pegou no volante da caminhonete porque percebeu que ela iria bater em um poste. Nesse momento, o juiz aposentado teria pedido para ela dirigir, foi quando ela viu Thais com a bicicleta e gritou para alertá-lo.
Ainda de acordo com ela, ao ser alertado, o juiz teria segurado a direção, acelerado e aconteceu o atropelamento. Segundo o que foi apurado pela reportagem, a passageira negou que tivesse sentado no colo do condutor da caminhonete e que estivesse seminua, afirmando que vestia uma saia e um top quando aconteceu o atropelamento.
Também foram registradas fotos com as versões de outras duas testemunhas no local do atropelamento antes da conclusão dos trabalhos.
Versões
Em entrevista, o delegado explicou que a reconstituição é importante e o que foi registrado será anexado ao inquérito, para eliminar qualquer divergência com relação aos depoimentos das partes.
Com relação à reconstituição, segundo o delegado, tanto o juiz aposentado quanto a acompanhante mantiveram as versões apresentadas durante o flagrante. “O juiz foi ouvido no dia, no auto de prisão em flagrante, e hoje ele manteve o depoimento dele na reprodução dos fatos”, informou.
Já com relação à passageira, o delegado informou que ela disse que o condutor da caminhonete pediu para ela assumir a direção, mas não que ela ficou sentada no colo dele, conforme foi noticiado.
Inquérito
Segundo o delegado, o inquérito policial já está na fase final, mas é preciso aguardar o laudo pericial do local do atropelamento. A polícia também aguardará possível pedido de diligência complementar por parte das defesas, que acompanharam todo o trabalho.
O delegado revelou que o dono da boate onde o casal esteve por cerca de 10 horas antes do atropelamento foi ouvido na terça-feira (5) e confirmou a versão do juiz aposentado, de que ele teria bebido apenas duas cervejas no período em que esteve no estabelecimento.
O caso segue sendo investigado como homicídio culposo na direção de veículo, agravado pela ingestão de álcool por parte do condutor. Não está descartada a possibilidade e a passageira da caminhonete ser indiciada por participação no atropelamento.