Opinião

Tecnologias de controle mental: entre a revolução e a preocupação

"A ideia de controle mental não é recente — há muito tempo ela fascina cientistas que, com propósitos nobres, buscam formas de tratar ou curar transtornos mentais"
Da Redação
01/06/2025 às 08h26
Imagem gerada por MetaAI, prompt de f7digitall Imagem gerada por MetaAI, prompt de f7digitall

Por Cássio Betine

 

A possibilidade de influenciar ou modular diretamente a mente humana por meio de dispositivos tecnológicos não é ficção científica. Interfaces cérebro-máquina, estimulação neuromodulatória e até nanopartículas ativadas remotamente já são realidade. Mas será que estamos prontos para lidar com as implicações dessas inovações?

 

A ideia de controle mental não é recente — há muito tempo ela fascina cientistas que, com propósitos nobres, buscam formas de tratar ou curar transtornos mentais. Também seduz os visionários que alimentam utopias de um mundo ideal, livre de conflitos e imperfeições. E, por outro lado, atrai tiranos que, consumidos pela própria soberba, enxergam a manipulação da mente humana como um meio de exercer um poder absoluto, quase divino. O que separa inovação de abuso é o propósito por trás da tecnologia — e essa linha é bem delicada.

 

Entre 2016 e 2017, diplomatas americanos em Cuba relataram sintomas neurológicos graves, como tontura, perda de audição e confusão mental. Em 2018, casos semelhantes foram registrados na China, levantando preocupações sobre possíveis tecnologias envolvidas. Alguns especialistas sugeriram que dispositivos como o V2K (Voice to Skull), capazes de transmitir sons diretamente ao cérebro, poderiam estar sendo utilizados para influenciar o humor e o estado mental das vítimas.  

 

As pesquisas militares dos Estados Unidos e da Rússia vêm estudando, desde a década de 1950, o desenvolvimento de armas eletromagnéticas com potencial para afetar o comportamento humano. Em 2012, o então ministro da Defesa russo mencionou explicitamente o desenvolvimento de armas psicotrônicas como parte do arsenal militar do país.  

 

Além disso, dispositivos avançados como o LERN (Leitor Eletrônico Remoto Neural) são descritos como capazes de captar e interpretar sinais cerebrais, permitindo a leitura de pensamentos e a indução de imagens e sons na mente da pessoa. 

 

Não há dúvida alguma de que essas tecnologias foram exploradas, e é difícil imaginar que tenham sido completamente abandonadas. Na verdade, parece que estamos testemunhando um avanço significativo nessa área.

 

Hoje, dispositivos como chips neurais, capazes de influenciar processos mentais; a Estimulação Magnética Transcraniana (TMS), que utiliza pulsos eletromagnéticos para tratar condições como depressão resistente, ansiedade e dor crônica; e o Nano-MIND, tecnologia desenvolvida na Coreia do Sul que permite o controle remoto de regiões específicas do cérebro através de campos magnéticos, estão em constante evolução.

 

Embora esses avanços sejam amplamente voltados para aplicações médicas e terapêuticas, o potencial para manipulação é uma preocupação legítima. Restaurar funções motoras, aliviar transtornos psiquiátricos e aprimorar a cognição são conquistas realmente fantásticas da neurociência, mas o outro lado dessa fronteira também existe.

 

Na verdade, o problema surge quando tais tecnologias passam a ser consideradas ferramentas para modificação do comportamento sem consentimento - e tem muito disso por aí. As próprias notificações ativadas de seus aplicativos são um bom exemplo disso - quando elas tocam, você não olha imediatamente para ver o que é? Agora, imagine um futuro onde estímulos cerebrais possam alterar estados emocionais, influenciar decisões políticas ou moldar preferências de consumo de maneira massiva? O risco de controle social total não pode ser ignorado.

 

A grande questão é: quem — ou o quê — pode garantir os freios e contrapesos necessários para esse avanço tecnológico? Impor protocolos rigorosos de segurança e transparência realmente resolveria o problema? E mais importante, quem teria autoridade para fazer isso?

 

A autonomia mental é uma realidade ou apenas uma ilusão conveniente? Estamos discutindo tecnologias eletrônicas de manipulação mental, mas e as formas mais sutis de influência? Propagandas, novelas, filmes, noticiários e até a própria estrutura da linguagem moldam percepções e comportamentos diariamente. Se a manipulação é inevitável, a verdadeira pergunta então pode não ser "como evitá-la?", mas sim "como reconhecê-la, conviver ou resistir a ela?".

 

*Cassio Betine é head do ecossistema regional de startups, coordenador de meetups tecnológicos regionais, coordenador e mentor de Startup Weekend e pilot do Walking Together. Cássio é autor do podcast Drops Tecnológicos

 

**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação

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