Por Micheli Amorim
O mês de setembro é marcado no calendário nacional pela campanha “Setembro Amarelo”, que recebe notoriedade graças às ações comandadas pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) com o CFM (Conselho Federal de Medicina).
O tema ainda é cercado de tabus, estigmas e preconceitos. Por isso, a primeira coisa a se esclarecer é de que falar sobre o assunto não aumenta o risco; é dever social da mídia contribuir e falar sobre o tema de maneira adequada. Isso significa, entre várias recomendações, evitar as descrições detalhadas de métodos empregados, bem como fatos e cenas chocantes.
Segundo ponto para romper as barreiras do preconceito é compreender que a pessoa que está vulnerável, pensando em suicídio, não deseja morrer. O que realmente a impulsiona é querer se livrar de uma dor insuportável. Sendo assim, trata-se de uma consequência final de um processo.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2019 foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados, pois com isso, estima-se mais de um milhão de casos. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem o ato por dia.
Conforme dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, divulgado pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022, entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil.
A maioria dá sinais sobre suas ideias de morte e frequentemente relata sobre isso, o que representa risco potencial e merece investigação, além de atenção especial dos profissionais da saúde.
Saber identificar que alguém está pensando no assunto, depende de uma escuta ativa, acolhedora e respeitosa para que facilite a expressão de suas condições internas. Algumas pessoas podem demonstrar sentimentos de desesperança, desespero, desamparo, impulsividade ou usar as expressões do tipo “que gostariam de sumir”, “que não aguentam mais viver”, “que não tem mais esperança”, “nada mais faz sentido”, “sinto uma dor que não passa”. Nesse momento, respeitar é tratar o outro como igual, porém, sem achar que ele percebe o mundo da mesma maneira que você.
É ouvir sem julgamentos, sem avaliar ou sem aconselhar, tomando frente da situação, mas sim, dando valor a todos os sentimentos. Não tentar impor visões pessoais que só vão aumentar a dor e sentimento de culpa da pessoa, nem fazer comparações e piadas. O único conselho essencial é de motivar a pessoa a buscar um médico psiquiatra ou psicólogo para melhor manejo da situação.
Nem todas as pessoas diagnosticadas com alguma doença mental terão comportamento suicida. Mas praticamente todas as pessoas que cometeram o suicídio apresentavam pelo menos um transtorno psiquiátrico. Os mais comuns detectados incluem depressão, transtorno bipolar, transtornos de personalidade, esquizofrenia, alcoolismo e abuso / dependência de outras drogas.
As doenças mentais podem transformar radicalmente a percepção sobre a realidade do indivíduo. Fatores estressores crônicos, humilhantes e recentes, como perda de alguém muito próximo, separação conjugal, traição, isolamento social, dor profunda ocasionada por doenças graves e falência, também foram identificados.
Falar ou escrever pode ajudar a entender os próprios sentimentos e aliviar paliativamente a dor emocional. Para isso existe o CVV (Centro de Valorização da Vida) que é um órgão não governamental. Eles recebem o contato por meio do telefone 188 ou e-mail apoioemocional@cvv.org.br . O CAPs Centro de Atenção Psicossocial) do município também pode ser procurado para atendimento e acompanhamento nesses casos.
Além disso, o suicídio é uma emergência médica, por isso, ao se deparar com uma situação de tentativa eminente, que necessite de intervenção imediata, a recomendação é ligar 192 Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
Cabe a todos o compromisso de se solidarizar em prol da prevenção: profissionais da saúde, professores, colegas de trabalho, empresários, líderes religiosos, administração pública, etc. Olhar com mais empatia para o próximo, de setembro a setembro é o desafio lançado. Redes de apoio e mobilizações a favor da vida sempre geram impacto positivo e merecem acontecer o ano todo.
É possível estourar a bolha do individualismo exacerbado dos tempos atuais e virar esse jogo. O que não pode acontecer é ficar no lugar de plateia assistindo a negligência e o egoísmo vencer. O melhor momento para começar? Agora!
Micheli Amorim
Jornalista, cantora e musicoterapeuta
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