Opinião

Sem celular nas escolas, resta agora se conectar

"E agora, depois de alguns dias de aula, como será que tem sido o cotidiano escolar? O que os adolescentes estão fazendo sem os celulares?"
Da Redação
13/02/2025 às 17h22
Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Por Graciela Franco

 

O ano letivo começou com uma grande novidade: a proibição do uso de aparelhos eletrônicos portáteis, inclusive telefones celulares, no ambiente escolar.

 

A lei, comemorada por muitos, também foi alvo de críticas, principalmente por parte dos adolescentes, acostumados a levar seus smartphones à escola e a se manterem conectados, mesmo durante as aulas. Tal crítica era esperada, já que a geração que nasceu conectada não experimentou outras possibilidades de ‘lazer’ durante o período de intervalo escolar ou quando terminam suas atividades.

 

Além disso, a vida na internet, principalmente nas redes sociais, não para, o que traz quase uma necessidade de olhar os reels, as atualizações e as histórias dos amigos e das celebridades da internet. Nesse contexto, ficar 'fora da internet' durante um período longo, como o horário escolar, traz a sensação de que se está perdendo algo, inclusive sobre a própria vida, pois pode ser que alguém comente ou poste uma foto sua nas redes sociais.

 

Neste sentido, precisamos estar atentos e preparados para acolhê-los, pois essa foi a realidade que lhes foi imposta até agora e não será fácil reprogramar essa forma de estar no mundo, de estar no ambiente escolar.

 

Apesar de toda apreensão dos pais e dos educadores, acredito que o fato de ser uma Lei Federal, e não uma norma da escola, ou mesmo do município, pode estar facilitando o processo de adaptação dos adolescentes à está nova realidade.

 

Me atrevo a levantar algumas hipóteses sobre isso: a primeira é o fato de que o “mandachuva” da Lei está distante do cotidiano escolar; é difícil, ou quase impossível reclamar diretamente com os deputados federais ou com o Presidente, por ter sancionado a Lei, assim, mesmo que não concorde, não goste é preciso seguir a regra; o que facilita também o trabalho para os pais e professores.

 

A segunda é que a Lei vale para todos, assim todos os adolescentes no período escolar estarão desconectados, ou seja, seu filho não vai postar nada no Instagram ou TikTok e nem o amigo dele, o que traz certa tranquilidade aos dois, pois quase que representa uma pausa geral na vida on line.

 

E agora, depois de alguns dias de aula, como será que tem sido o cotidiano escolar? O que os adolescentes estão fazendo sem os celulares? 

 

Em conversa com uma coordenadora pedagógica de uma escola estadual, ela me contou algumas coisas interessantes que podem nos dar pistas de como serão os intervalos e a vida escolar daqui para a frente: “Vejo os alunos interagindo mais, tanto entre eles, quanto com o ambiente, formando rodinhas, jogando bola na quadra; nas salas de aulas eles estão mais falantes e participando mais também, situação bem diferente daquela vista até o ano passado”. Por fim ela complementa “Acredito que isso também irá repercutir em uma melhora na concentração e no desenvolvimento escolar dos alunos".

 

Em um post no Instagram um médico pediatra, famoso e muito antenado nos direitos da criança e do adolescente, disse que tem recebido muitos depoimentos de várias escolas que indicam o mesmo que o percebido pela Coordenadora.

 

Os adolescentes estão interagindo, estão vivendo o mundo real, construindo histórias, para talvez contar no Instagram, estão ensaiando dancinhas, que talvez vão para o TikTok. Não que isso também não acontecia, mas era mais restrito há alguns grupos ou por momentos curtos, então isso me leva a crer que talvez estivéssemos subestimando a capacidade de nossos adolescentes em ser criativos.

 

Ouvindo estas histórias, me deu até saudade da minha época de escola!

 

É claro que esta mudança trouxe novos desafios à comunidade escolar, pois também cabe a ela além de mediar essa situação, apresentar alternativas para o tempo ocioso, e acolher as novas necessidades que possivelmente surgirão por parte dos adolescentes.

 

Segundo a Lei, as escolas também têm outra responsabilidade: a de realizar ações de conscientização sobre o efeito nocivo para saúde mental de crianças e adolescentes, provocado pelo uso imoderado de smartphones, principalmente quando se trata de redes sociais, além dos riscos de acesso a conteúdo impróprios para a idade. 

 

Penso que neste momento ser exemplo é a grande sacada para os educadores. Por isso, mesmo em práticas pedagógicas, a primeira opção para o uso da tecnologia dentro das escolas deve ser o computador; e, quem sabe, vale também resgatar do fundo da gaveta aquela câmera digital para fotografar as cenas importantes, que poderão ser utilizadas na avaliação do processo educativo.

 

Aos pais, caberá um pouco de paciência, pois, assim como eu, sei que muitos ficam esperando no final do dia as ‘fotinhas’ dos filhos realizando as atividades, prática adotada por algumas escolas.

 

E, por falar no que cabe aos pais, além da parceria com a escola, penso que talvez a lei seja uma brecha para que possamos também usar menos o celular, principalmente quando estamos na companhia dos nossos filhos; aproveitar esse tempo para conversarmos, realizarmos as refeições juntos, andar de bicicleta ou mesmo ler um livro com eles.

 

É hora de usar a criatividade para nos aproximarmos de nossas crianças e adolescentes. É momento de conquistar o tempo deles, pois não há nenhuma lei que proíba os pais ou as famílias de se conectarem com seus filhos.

 

Graciela Franco

Mãe, Assistente Social Pedagoga e Educadora Parental

@gracielafranco_mater

 

** Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação

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