Opinião

Qual o lugar reservado à Infância na sociedade?

"Não adianta cobrar de uma criança pequena que ela não chore, essa é sua forma de comunicar"
Da Redação
12/12/2024 às 11h12
Foto: Divulgação Foto: Divulgação

*Por Graciela Aparecida Franco Ortiz

 

Por que e para que temos filhos? Quantas vezes nos perguntamos isso antes de tê-los? A resposta possivelmente seja nenhuma!

 

Isso talvez se deva ao fato de que ter filhos apareça como algo natural e esperado, principalmente se você mantém uma relação estável. É quase: estamos aqui para isso! 

 

Então é importante pensar que ao longo da história, ter filhos cumpriu algumas funções: continuação da espécie, ter herdeiros, ter mão-de-obra e recentemente a realização do sonho pessoal dos adultos. O lugar da infância na sociedade era determinado por essas funções, que quase sempre se vinculavam ao adulto no qual essa criança se tornaria.

 

Talvez hoje convivamos com o fato de que ter filhos cumpram todas essas funções, tanto individual, quanto socialmente. Já pensou se decidíssemos não ter filhos? Parou para pensar no impacto social que isso teria?

 

O que me chama atenção nisso tudo é o fato de que nós adultos pouco pensamos de fato sobre o porquê termos filhos, principalmente do ponto de vista deles; pois quando, por exemplo, pensamos em tê-los como herdeiros, estamos pensando no que nós construímos, inclusive já criando expectativas em relação ao futuro desse/a filho/a. Do meu ponto de vista, isso é pensar em ter filhos do ponto de vista dos adultos.

 

E o que isso impacta?

 

Acredito que muita gente aqui viu algo sobre a polêmica no avião; a repercussão do que ocorreu foi algo bastante exemplificador da discussão aqui apresentada, porque fala do lugar da criança em nossa sociedade.

 

Isso porque o que foi ouvido ou lido por muitos de nós desde o primeiro momento de publicação do fatídico vídeo foi: “que criança birrenta, mal-educada, sem limites, como pode uma mãe agir assim” (sendo que a mãe nada teve a ver com a situação, pois ela estava acolhendo o filho, aliás os três filhos que estavam com ela), chegando ao extremo desta mãe ouvir coisas horríveis dentro do avião sobre seu filho.

 

E aí me fica a pergunta: Que lugar tem a infância em nossa sociedade?

 

Tenho para mim que, fazendo analogia com o avião, possivelmente ela está junto com a bagagem, aguardando sua retirada no destino: a fase adulta. Seja para cuidar da herança, ou mesmo para servir de mão-de-obra.

 

Dar as crianças esse lugar no futuro é negar a elas o direito de ser, o direito do hoje. É negar o direito dessa criança apresentar características próprias da etapa de desenvolvimento. Não adianta cobrar de uma criança pequena que ela não chore, essa é sua forma de comunicar. Dizer “não chore” é silenciá-la!

 

A chamada “birra” é um comportamento comum e esperado em determinada fase de desenvolvimento, na qual ela ainda não sabe lidar com as frustrações e esse não saber é próprio da idade desta criança; o que requer dos adultos, maturidade para compreender isso e para acolhê-la, contê-la e mais, habilidade destes adultos e da sociedade em geral para ensiná-la a lidar de outra maneira com a situação, sabendo que ela vai aprender quando tiver condição para isso.

 

Nos cabe evoluir enquanto pais, famílias e como sociedade para o reconhecimento da criança enquanto sujeito de direitos. Isso significa pensar na criança, no filho, na filha do ponto de vista dela, a partir de seus interesses e necessidades.

 

Com isso não estou dizendo que você deve ceder seu lugar na janela, mas que você deve entender que criança chora, criança tem desejos, criança se frustra, que criança é um ser humano integral e que os adultos somos nós e a nós não cabe filmar o evento, não cabe birra, cabe acolher, e auxiliar as mães!

 

Possivelmente a nós foi negado este acolhimento ou ele nos foi dado a conta gotas. Fomos as crianças no porta-malas, por isso temos dificuldade de agora reconhecê-las enquanto dignas do assento que ela quiser, ou de pelo menos do direito de elas chorarem por ele.

 

Fazer as pazes com a criança que fomos, tirá-la do porta-malas e acolhê-la, talvez seja o primeiro passo para olhar a infância com mais respeito, para que assim possamos ter filhos/as e olhar os filhos/as dos outros com mais empatia e carinho.

 


*Graciela Aparecida Franco Ortiz

Mãe, Pedagoga, Assistente Social, Educadora Parental certificada em Disciplina Positiva.

 

** Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação

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