Opinião

Hardware humano

"Apesar de parecer fruto de um filme de ficção, o negócio é bem real e pesquisadores já demonstraram que é possível"
Da Redação
06/04/2025 às 09h58
Imagem gerada por Meta AI, com prompt do autor Imagem gerada por Meta AI, com prompt do autor

Por Cassio Betine

 

Imagine só poder enviar uma mensagem para alguém sem usar seu smartphone, bastando apenas dar um comando cerebral e pronto, a mensagem foi enviada? Pois é, isso pode ser um dos possíveis resultados da tecnologia que alguns cientistas estão trabalhando atualmente - a computação biológica.

 

Essa tecnologia é um campo interdisciplinar que busca entender e aplicar os princípios da biologia para desenvolver sistemas computacionais. Em vez de depender exclusivamente dos circuitos eletrônicos, ela explora processos biológicos como o DNA, proteínas e células para processar informações. E o desdobramento disso é que essa integração pode permitir que nosso corpo atue como uma eficiente ferramenta computacional. 

 

Apesar de parecer fruto de um filme de ficção, o negócio é bem real e pesquisadores já demonstraram que é possível. Eles já provaram que tecidos vivos, como a pele, por exemplo, podem ser manipulados para servirem como computadores.

 

O princípio por trás dessa tecnologia é chamado de computação de reservatório, um método que usa sistemas dinâmicos para codificar padrões de dados. Normalmente, esses reservatórios computacionais são encontrados em circuitos elétricos ou tanques de fluido, mas agora conseguiram aplicar esse conceito ao tecido humano.

 

Um professor japonês, Yo Kobayashi, da Universidade de Osaka, liderou recentemente um experimento onde voluntários dobravam seus pulsos em diferentes ângulos enquanto imagens de ultrassom registravam as deformações musculares. Esses dados foram então usados para criar esse tal de reservatório computacional, só que biofísico, capaz de processar informações.

 

O que torna essa abordagem interessante e, de certa forma, muito promissora é que, segundo os cientistas, o tecido humano possui características ideais para computação, como por exemplo, memória e complexidade. Bom, na verdade, uma avalanche de descobertas e inovações nessa área, têm base no funcionamento dos organismos orgânicos - veja por exemplo, os chips neurais, que foram desenvolvidos usando como referência, o neurônio.

 

No caso da pele humana, a elasticidade e a resposta mecânica dos músculos permitem que eles armazenem e processem dados de maneira eficiente. Os testes que fizeram já mostraram que esse sistema é dez vezes mais preciso na resolução de equações não lineares (mais complexas) do que métodos tradicionais de regressão linear (mais simples).

 

Mas qual seria então  a serventia disso? Bom, as aplicações futuras e impacto na vida das pessoas são muitas. E podem ser revolucionárias. Uma das possibilidades mais interessantes é em relação a integração com dispositivos vestíveis, como relógios inteligentes e sensores biométricos.

 

Esses dispositivos poderão delegar cálculos ao próprio tecido humano, tornando os sistemas mais rápidos e eficientes. Isso pode melhorar o desempenho de tecnologias médicas, como monitores de saúde que analisam dados do corpo em tempo real sem depender de processadores eletrônicos externos ou embutidos no organismo.

 

Além disso, a computação biológica pode abrir caminho para novas formas de interação entre humanos e máquinas. No futuro, talvez nossos corpos possam se comunicar diretamente com dispositivos eletrônicos, sem a necessidade de teclados ou telas - como dito no início deste texto.

 

Tudo poderá estar integrado. Essa tecnologia poderia ainda facilitar o desenvolvimento de interfaces neurais mais avançadas, permitindo que pessoas com deficiência controlem próteses ou dispositivos apenas com o movimento dos músculos. O negócio é bem louco mesmo!

 

É claro que existem muitos desafios. Os pesquisadores agora querem ampliar o modelo para lidar com cálculos ainda mais complexos e testar outros tipos de biomateriais. Sobre questões éticas, nem vou mais comentar aqui, pois isso sempre haverá, seja lá em que área de inovação o ser humano atuar.

 

De qualquer forma, é um fenômeno fascinante. A integração, ou simbiose, entre máquinas e humanos já avançou consideravelmente, ainda que não seja amplamente popular. Mesmo assim, está promovendo, de maneira crescente, a fusão entre matérias orgânicas e minerais, aproximando cada vez mais nosso corpo das máquinas - e vice-versa.

 

*Cassio Betine é head do ecossistema regional de startups, coordenador de meetups tecnológicos regionais, coordenador e mentor de Startup Weekend e pilot do Walking Together. Cássio é autor do podcast Drops Tecnológicos

 

**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação.

Entre no grupo do Whatsapp
Logo Trio Copyright © 2025 Trio Agência de Notícias. Todos os direitos reservados.