Opinião

É possível ver as flores, apesar dos espinhos

"Quando a dor não cicatriza, ela distorce o olhar. Mesmo diante de um jardim florido, há quem só consiga ver os espinhos"
Da Redação
21/05/2025 às 16h55
Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Por Jean Oliveira

 

Algumas pessoas parecem viver presas em ciclos que se repetem. Relações amorosas que machucam. Patrões que perseguem. Dificuldades financeiras que não dão trégua. Sensações constantes de não pertencimento, insegurança e baixa autoestima em qualquer ambiente.

 

Mesmo quando trocam de parceiro, de emprego ou de cidade, o roteiro continua o mesmo.

 

E as perguntas surgem:

 

“Será que eu tenho dedo podre?”

 

“Será que ninguém gosta de mim?”

 

“Por que isso só acontece comigo?”

 

A resposta pode estar menos no mundo lá fora — não é culpa dos outros, dos signos ou de uma entidade mística — e mais dentro da própria história de vida. Quando alguém é ferido emocionalmente, especialmente na infância, pode carregar marcas invisíveis que moldam a forma como enxerga o presente.

 

Freud, o pai da psicanálise, explicava que experiências mal elaboradas não desaparecem. Elas voltam — disfarçadas, camufladas — porque querem ser reconhecidas e elaboradas. Só assim a dor diminui e, com o tempo, para de bater à porta em forma de repetição.

 

Quando a dor não cicatriza, ela distorce o olhar. Mesmo diante de um jardim florido, há quem só consiga ver os espinhos. E isso não é escolha: é automático. A mente, ocupada em reviver o que doeu, não reconhece outras formas de viver e sentir. Assim, sem perceber, repete padrões, tentando consertar no presente o que ficou pendente lá atrás.

 

HÁ CAMINHOS

 

Mas não precisa ser assim para sempre.

 

O autoconhecimento é um caminho possível. A psicoterapia, por exemplo, oferece um espaço seguro para entender por que certas feridas ainda doem, mesmo tanto tempo depois. Ao nomear as dores, a pessoa começa a dar novos sentidos a elas. Começa a perceber que não está condenada a repetir sempre as mesmas histórias.

 

É importante lembrar: ninguém está sozinho nesse processo. Muita gente sofre calada, achando que é a única a sentir o que sente. Não é verdade. A dor pode até ser silenciosa, mas é compartilhada por muitos.

 

E mesmo que os espinhos estejam presentes, é possível — com tempo, cuidado e acolhimento — aprender a reconhecer as flores. 

 

A vida não é feita só de dor, nem precisa ser um ciclo sem fim. Existe beleza. Existe possibilidade. E, acima de tudo, existe saída.

 

Se você se identificou com esse texto, talvez seja hora de olhar para dentro. Não para se culpar, mas para se libertar. Porque ninguém nasceu para viver só entre espinhos.

 

Jean Oliveira é jornalista, turismólogo e acadêmico de Psicologia

 

** Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação

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