Por Cassio Betine
Eles chegaram e estarão nas “prateleiras” em breve. Calma, não serão eletrônicos do tipo que compramos em algum marketplace ou magazine, pelo menos por enquanto, mas já estarão disponíveis para diversas aplicações que podem impactar nossas vidas.
Os computadores biológicos começaram a fazer parte do radar dos cientistas faz algum tempo, e os motivos são justificáveis. Primeiro, devido à sua eficiência energética - eles podem ser muito mais eficientes em termos de consumo de energia do que os computadores tradicionais. Isso ocorre porque os sistemas biológicos, como os neurônios orgânicos, são extremamente eficientes no processamento de informações e ainda não precisam de bateria para funcionar.
Outro bom motivo é sobre sua capacidade de aprendizado - os computadores biológicos podem aprender e se adaptar de maneiras que os computadores tradicionais não conseguem. Por exemplo, o CL1, da australiana Cortical Labs, utiliza neurônios humanos para criar uma inteligência artificial biológica que pode aprender por meio de estímulos eletrofisiológicos - tipo os sinais que nosso coração emite para manter o bombeamento de sangue para todo corpo.
Os computadores biológicos utilizam componentes orgânicos, como células, proteínas e ácidos nucleicos para realizar cálculos e processar informações. Isso mesmo, coisas vivas que podem ser manipuladas e programadas para realizar tarefas que envolvam algum tipo de lógica. Ou seja, podem reagir condicionalmente a determinados comandos. Para nós, que não temos a mínima noção técnica do que é isso, talvez não signifique muito, mas para os cientistas é uma área instigante. E, dependendo das descobertas, isso pode revolucionar drasticamente a forma como lidamos principalmente com a medicina e também como interagimos com as máquinas.
Neste momento (março de 2025), o primeiro computador biológico do mundo acabou de ser lançado comercialmente pela empresa australiana citada anteriormente. Conhecido como SBI - Inteligência Biológica Sintética, o sistema foi lançado oficialmente em Barcelona em 2 de março de 2025, e a comunidade científica espera que seja um divisor de águas para a ciência e a pesquisa médica.
As redes neurais de células humanas que se formam no chip de silício são essencialmente um computador orgânico em constante evolução, e os engenheiros por trás dele dizem que ele aprende tão rápido e flexível que supera completamente os chips de IA baseados em silício usados ??para treinar modelos de linguagem existentes, como o ChatGPT, por exemplo.
E para que isso servirá? Sua aplicações são inúmeras, na medicina eles podem ajudar a desenvolver novos tratamentos e medicamentos, além de melhorar a compreensão do corpo humano; no meio ambiente, poderão ser úteis para monitorar e mitigar impactos como poluição e mudanças climáticas; na segurança, eles podem criar sistemas mais eficazes e robustos; e na computação, contribuem para a criação de computadores mais eficientes, autônomos e sustentáveis.
Imagine seu smartphone usando essa tecnologia de computação biológica, a bateria duraria tanto que talvez esqueceria de carregar, o tempo de resposta dos comandos seriam centenas de vezes mais rápido e dificilmente haveria problema de espaço para armazenamento.
Assim como as descobertas ancestrais que mudaram o comportamento da humanidade, como a alavanca e a roda, por exemplo, isso também impactaria drasticamente. Talvez quando essa tecnologia estiver numa fase mais avançada, a relação do nosso organismo com membros e órgãos artificiais poderá ser, digamos, mais natural, considerando que o homem está fundindo as tecnologias computacionais com todo tipo de organismo biológico.
Apesar disso parecer uma “viagem” e até soar meio distópico, basta olharmos para a história e observarmos a grande variedade de dispositivos incorporados de alguma forma em nossos corpos, seja externamente, como lentes ópticas para melhorar a visão e próteses para substituir membros ou internamente, como marcapassos para garantir o funcionamento eficiente do coração e, atualmente, chips neurais para ajudar no desempenho das funções cerebrais.
De qualquer forma, apesar da ideia de um computador vivo parecer meio assustador, isso é uma realidade e está em desenvolvimento. E, como toda nova tecnologia, inicialmente é restrita, mas pode se tornar popular à medida que amadurece.
*Cassio Betine é head do ecossistema regional de startups, coordenador de meetups tecnológicos regionais, coordenador e mentor de Startup Weekend e pilot do Walking Together. Cássio é autor do podcast Drops Tecnológicos
**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação.