Opinião

Antecedentes dos 116 anos de História de Araçatuba

"Até o momento da difusão da engrenagem capitalista de propriedade, uso e administração das terras posicionadas na região de Araçatuba, foram os silvícolas caingangues quem usufruía e tinha a autoridade sobre esse pedaço da superfície terrestre"
Da Redação
27/11/2024 às 10h39
Indígenas Caingangues na Noroeste Paulista no início do século XX (Foto: Câmara Municipal de Araçatuba/sem data) Indígenas Caingangues na Noroeste Paulista no início do século XX (Foto: Câmara Municipal de Araçatuba/sem data)

Por Danton Leonel de Camargo Bini

 

A instalação de objetos técnicos que propiciaram funcionalidades inovadoras ao território paulista no início do século XX está ligada a uma dinâmica de mudanças advindas das totalidades escalares estadual, nacional e mundial. Com isso, a destruição quase total da nação caingangue é manifestação singular de um processo de aquisições territoriais gerado pelo sistema capitalista em terras brasileiras desde sua fase germinal de acumulação primitiva.

 

A estrutura industrial instalada no centro do capitalismo mundial requisitou a intensificação das relações de troca às longas distâncias entre as diferentes partes do planeta. Somente com as inovações nas técnicas de transportes (como as embarcações marítimas e as locomotivas a vapor) isso seria possível. A incipiência (anexa à indústria) de uma sociedade urbana formata novas demandas num reordenamento da divisão territorial da produção e do trabalho. O acelerado desenrolar da indústria reclama novos mercados aos seus produtos e novos territórios para a produção de matérias-primas e alimentos necessários ao funcionamento desse sistema. 

 

Nesse contexto de rápidas mudanças, o Brasil e particularmente São Paulo, através da produção de café para o mercado mundial, passam a cumprir um papel importante nessa expansão do capitalismo pelo planeta Terra. Cultura que a partir do primeiro quarto dos anos 1800 foi posta em acelerada expansão no leste do espaço geográfico paulista (de início no Vale do Paraíba, chega posteriormente à Depressão Periférica Paulista), o café esbarrou seu avanço rumo ao oeste - já em meados do século XIX - devido aos gargalos operacionais referentes aos custos do transporte do produto ao porto de Santos.

 

Dessa forma, unido ao discurso geopolítico de integração de São Paulo ao Mato Grosso, para superar esse obstáculo e dinamizar com a fluidez necessária a expansão do circuito espacial do café, surgiu o projeto de construção das ferrovias em direção ao Oeste. Na década de 1870, as sociedades ferroviárias São Paulo Railway Company, Companhias Sorocabana, Mogiana e Noroeste do Brasil introduziram no espaço geográfico paulista uma malha de linhas férreas que serviram como instrumentos de sucção de café das regiões produtoras ao porto santista.

 

No caso específico da  EFNOB (Estrada de Ferro Noroeste do Brasil), fruto de solidariedades organizacionais que reuniram investimentos brasileiro, belga e francês, a instalação dos trilhos entre Bauru e Araçatuba se principiou no meio da primeira década do século XX, em 1905. No final de 1906 foi lançado o trecho inicial de Bauru em direção ao oeste.

 

Este, até Promissão, foi antecipado por incipientes possessões agrícolas realizadas por importantes segmentos da burguesia paulista que se moveram adiante à linha férrea: foram as investidas dadas pelas famílias Rodrigues Alves e Toledo Piza. Parecidas às lavouras que vicejaram contornando inicialmente a estrada de ferro, as primeiras povoações se originaram nas cercaduras das estações.

 

Da necessidade surgida com o avolumar populacional, novos loteamentos residenciais, comerciais e públicos eram inaugurados. Assim aconteceu nas áreas arrabaldes às estações de Pirajuí, Lins, Cafelândia e Promissão. Entre Promissão e Araçatuba, a conquista das terras caingangues ocorreu prioritariamente com o financiamento de grupos capitalistas estrangeiros. 

 

Em 02 de dezembro de 1908 os trilhos chegam no que hoje se consolidou o município de Araçatuba. Parabéns Araçatuba, pelos seus 116 anos!

 

Danton Leonel de Camargo Bini, Doutor em Geografia pela USP, Pesquisador Científico do Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

 

**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação.

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