Opinião

A neblina tomou conta da cidade

"No meu tempo de menino, ir à escola, a pé, andando vários quilômetros por estradas, cruzando a neblina, era uma aventura"
Da Redação
03/07/2024 às 18h51

Por Hélio Consolaro*

 

"A certeza é fatal. O que me encanta é a incerteza. A neblina torna as coisas maravilhosas" OSCAR WILDE

 

A neblina tomou conta da cidade. As nuvens baixaram ao rés do chão. Não se via a um metro do nariz. O próximo passo é uma incerteza. 

 

Assim foi terça-feira, 02/07/2024. Era dia da Sandra ajeitar a casa, veio de Biz, estava apavorada com o nevoeiro. A cada acelerada vinha o desconhecido, apesar de ser um caminho rotineiro.

 

A namorada também reclamou, pelo zap, de que Araçatuba parecia Londres, ou São Paulo no tempo da neblina. Eu respondi que o tempo sombrio me assanha a inspiração, é romântico. Até ouvi o lobo uivar.

 

No meu tempo de menino, ir à escola, a pé, andando vários quilômetros por estradas, cruzando a neblina, era uma aventura. As recomendações maternas redobravam.

 

A neblina vem nos lembrar que os humanos ainda somos natureza, põe no mesmo nível o lobo e o homem, contesta o cristianismo que quer esconder o nosso lado animal. Deus está em tudo, é também natureza. 

 

A neblina não é uma enchente do Rio Grande do Sul que quis nos educar na dor. Ela nos traz solitários para dentro da nuvem rala, é um acolhimento, dizendo que nós somos parte dela. 

 

Estrofe

Estranho é caminhar na densa névoa:

Solitária está cada planta ou pedra,

Nenhum arbusto enxerga o seu vizinho,

Cada um está só. HERMANN HESSE

 

Até o Papai Noel era magro

 

Folha da Região de 14/02/2024 (em preto e banco), edição on-line, mostrou uma foto de uma festiva de Natal (o Papai Noel está presente), por saudosismo organizada na antiga Polícia Mirim. Era tempo de fotos em preto e branco. Bem antiga.

 

Escrevendo sobre a foto, não estou fazendo uma homenagem à Fundação Mirim (antiga Polícia Mirim). Apenas um aspecto me chamou a atenção: como as pessoas eram magras, em todas as faixas etárias. Não havia um gordinho. Até o Papai Noel ERA magro. Chegam a ser magricelas.

 

Qual será o motivo? Passavam fome? Comiam na hora certa? Os alimentos eram mais saudáveis? Creio que não. Atribuo o grande percentual de gordinhos atualmente, principalmente entre crianças, a um eletrodoméstico que fica em nossas cozinhas: a geladeira.

 

A geladeira cheia, permitindo comer a qualquer hora. Na atualidade, tendo uma geladeira se monta um restaurante.

 

A energia elétrica nos trouxe a geladeira, além de iluminar a noite, de fazer a gente dormir mais tarde. O refrigerador tocado a gás ou a querosene era caro e não gelava quase nada. A geladeira (ou qualquer outro nome) conserva alimento, nos proporciona o hábito de comer a qualquer hora.

 

Com a geladeira, nossa vida virou uma festa de Natal diária. Refrigerantes, cervejas, etc. E para completar, apareceu o forno micro-ondas.

 

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP, Penápolis-SP, Itaperuna-RJ

 

** Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação

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