Por José Márcio Mantello
O que faz com que uma pessoa saia do conforto de sua cama logo pela manhã e vá para uma academia fazer esforço, sentir dor? Ou após um dia exaustivo de trabalho, ir para essa mesma academia “sofrer”?
Claro que existe a motivação da busca por uma saúde melhor e até mesmo uma estética física mais definida. Porém, o que muitas pessoas não percebem é que, tamanho sacrifício, poderá trazer um enorme benefício, entre eles, a resistência diante de um obstáculo que exigirá de nós uma força descomunal.
Isso também é verdade quando olhamos para os “sacrifícios”, para os “exercícios dolorosos” que a vida nos impõe tais como: injustiça, rejeição, solidão, perdas, fracassos e frustrações. Passamos boa parte da nossa vida tentando nos desviar de tais ocorrências, tentando evitá-las a todo custo, porém, quando elas acontecem, restam apenas duas opções: ou nos deixamos ser destruídos pela dor causada por elas ou podemos enxergar o potencial que há por trás de tamanhos sofrimentos.
São poucos aqueles que conseguem enxergar a dor como aliada e não como inimiga.
Fato é que, se começássemos a visualizar a dor, a adversidade, a dificuldade por um novo prisma, com certeza, não somente as enfrentaríamos com maior vigor, como nossas chances de vencê-las, seriam multiplicadas.
É necessário enxergar o propósito por trás da dor. Imagine um atleta que treina dia após dia, por anos, para disputar uma maratona. Próximo à linha de chegada, seu rosto expressa cansaço, mas também determinação; o suor cobre o seu corpo, seus músculos estão retesados, mas, finalmente cruza em primeiro a linha de chegada. O que o fez suportar todos os dias e anos de preparação? O que o fez se manter determinado, apesar de toda dor sentida nos últimos metros? Com certeza foi o propósito, o objetivo, agora, alcançado.
Pense ainda em um jovem que renuncia finais de semana, noitadas, feriados, tempo com amigos, porque está mergulhado em seus livros e estudos visando aquele concurso importantíssimo. Ao final, quando ver seu nome entre os aprovados, todo sacrifício, todo esforço e abnegação, terá valido a pena.
O que faz uma mulher suportar as dores de parto? O que faz com que ela faça um esforço descomunal para trazer à luz uma criança? O que a faz sorrir após ter essa criança em seus braços? Com certeza é o novo propósito que agora ela tem na vida; é o novo nome que está esculpido em seu coração: MÃE!
Vivemos um paradoxo, pois, há uma cultura que tenta nos impor a ideia que temos que fugir de toda e qualquer dor (física ou emocional), mas, ao mesmo tempo, estamos atravessando um dos períodos mais sombrios da humanidade, no qual a violência, em todos os níveis, cresce assustadoramente (desde o interior das casas como para fora delas), novas doenças, catástrofes na natureza, guerras, fome, insegurança no amanhã, ou seja, vivemos um período de dores.
Quando não conseguimos enxergar o propósito por trás da dor, o prognóstico é de sermos tomados pela depressão. E essa tem sido a maior causa de invalidez (fator incapacitante para o trabalho), a quarta maior causa desencadeadora de outras doenças (fator psicossomático) e, ainda, está entre as cinco maiores causas de morte no mundo (fator impulsionador para o suicídio).
Infelizmente, o que tem impedido milhares de pessoas de entender o propósito por trás da dor ou de um sofrimento, é a filosofia equivocada e hedonista de que nascemos SÓ PARA EXPERIMENTARMOS OS PRAZERES. Nada mais distante da realidade, da vida como ela é!
Achar que podemos passar por essa vida sem dor, sem contrariedades e sem sofrimento, é o mesmo que achar que podemos criar músculos, ficando deitado em nossa cama, sem fazer qualquer esforço.
Em vez de corrermos atrás de uma vida sem dor, por que não tentamos entender que ela não é nossa inimiga? Na verdade, a dor pode se tornar uma importante aliada se permitirmos que ela crie em nós musculatura emocional e até mesmo nos leve a um nível de maturidade jamais experimentado.
Tentar evitar a dor ou fingir que ela não existe, não nos isentará de um dia experimentá-la. E pior, negá-la, apenas impedirá a sua cura.
Não despreze o potencial que há na dor. Por isso, escolha tê-la como sua aliada e não como seu algoz.
“Caso alguém faça algo nobre em meio à dor, ela (a dor) passará, mas a nobreza permanecerá; caso faça algo desonroso nos momentos de prazer, ele (o prazer) passará, mas a desonra permanecerá” . Ditado grego.
José Márcio Mantello é advogado criminalista na comarca de Araçatuba e Teólogo
Graduado em Direito pela UNITOLEDO; Pós-Graduação em Docência do Ensino Técnico e Superior pela UNITOLEDO; Pós-Graduação em Prática Penal Avançada pelo DAMÁSIO EDUCACIONAL; Especialização em Execução Penal pelo IDPB – Rio de Janeiro
Atuação no Tribunal do Júri
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