Opinião

A arte de dialogar com um adolescente

"Será que eles sentem que desejamos dialogar com eles?"
Da Redação
21/09/2024 às 10h20
Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Por Graciela Aparecida Franco Ortiz

 

Vale lembrar que diálogo pressupõe interação, troca de ideias entre pessoas, ou seja, que os sujeitos envolvidos estejam em posição de certa igualdade, diante disso, vale perguntar de novo: estamos conseguindo dialogar com os adolescentes?

 

À primeira vista, os pais e/ou educadores que estão lendo, podem ter respondido que “sim, dialogamos o tempo todo”, ou “pelo menos tentamos” e poderíamos completar esta afirmação com “mas eles não querem nos ouvir”.

 

Penso que é aí mora a chave para que esse diálogo não ocorra: o no fato de que talvez o que temos a falar não tem soado tão digno de ser ouvido assim por eles.

 

Se pensarmos nas pessoas com as quais temos o prazer de conversar, quais características elas têm?

 

Eu diria que gosto de conversar com quem me escuta sem julgamento, com quem posso falar dos meus erros e acertos, que não irá menosprezar o que sinto e o que penso, que demonstra interesse pelo que falo, que não impõe suas verdades, dentre outras coisas.

 

Então, com base nesta minha listinha e na sua, vamos para um segundo questionamento: qual mensagem estamos passando para os adolescentes? Será que eles sentem que desejamos dialogar com eles?

 

Me atrevo aqui a dizer que facilmente esquecemos que já fomos adolescentes e muitas das vezes o diálogo que desejamos ou realizamos é na verdade um monólogo, no qual expressamos nossa sabedoria adquirida no auge de nossos 40, 50 anos. Nos comportamos assim e ao fim desejamos que nosso adolescente queira estar perto de nós, nos conte sobre sua vida (muitas vezes para dizer que já passamos por isso, ou para dizer que estão errados) e nos reconheça como figura de autoridade e afeto.

 

Se perguntássemos agora para um adolescente como ele se sente depois de um monólogo do pai, mãe, professor ou de qualquer adulto, me arrisco que ele diria algo do tipo “ele não me entende mesmo” ou ainda “ele não se importa com que penso ou sinto”; e isso significa que a comunicação falhou.

 

Tais provocações são necessárias porque nessa fase de desenvolvimento o adolescente esta em um período no qual busca responder quem é, do que gosta. Período de construção do seu eu, no qual vai se inserindo por si mesmo no mundo, fazendo julgamentos a respeito deste mundo (e da família também); e quanto mais próximo ele estiver da família, mais esta poderá auxiliá-lo em seus questionamentos e experiências, principalmente em um mundo cada vez mais virtual e com ausência de regulação das redes sociais, com maior facilidade de acesso a substâncias tóxicas, e ídolos com condutas bastante duvidosas em relação à influência que têm para os adolescentes.

 

Longe de achar que tenho receitas, pois não as tenho, mas creio que só conseguimos estabelecer um verdadeiro diálogo com nossos adolescentes ao passo que os reconhecemos como sujeitos plenos, que valorizamos o que eles têm a nos dizer, demonstrando abertura para escutá-los, nos abrindo para aprender com eles e demonstrando respeito pelo que pensam e sentem.

 

Isso requer coragem, pressupõe humildade e muito compromisso, então não é fácil fazê-lo, porém é cada vez mais urgente e necessário.

 

Graciela Aparecida Franco Ortiz

Mãe, Assistente Social, Pedagoga e Educadora Parental

 

*Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação.

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