Os primeiros estudos para a criação da FMVA (Faculdade de Medicina de Araçatuba) começaram em 1984, a partir de demandas da cidade e da comunidade de pecuaristas da região. Hoje, ela é uma instituição consolidada, referência nacional na pesquisa científica e com um ensino reconhecido nas excelentes classificações obtidas nos principais rankings universitários brasileiros e na absorção de seus alunos pelo mercado de trabalho.
Anualmente, ingressam no curso de medicina veterinária 60 estudantes, que têm à disposição uma área de aproximadamente 530 mil metros quadrados do câmpus. O corpo docente é formado por uma equipe de mais de 50 professores que, além do ensino, também desenvolvem projetos de pesquisa. Desde o primeiro ano, os estudantes da FMVA são estimulados a se engajar nesses projetos por meio de programas de Iniciação Científica.
Se décadas atrás a criação da faculdade teve apoio determinante de pecuaristas da região, hoje são os alunos que se beneficiam da localização geográfica estratégica da instituição para o agronegócio paulista.
A unidade universitária abriga um dos poucos cursos de medicina veterinária em instituições públicas da região, uma característica que permite aos alunos se envolverem ativamente nos diversos eventos agropecuários realizados no município.
Na visão dos professores, essa participação acaba se tornando uma forma de os alunos entrarem em contato com as principais novidades do setor, mesmo estando ainda vinculados à universidade.
Parceria
Por meio da ABQM (Associação Brasileira do Quarto de Milha), em Araçatuba, o município recebe grandes eventos do setor, como Potro do Futuro, Copa dos Campeões e Derby. “Alguns desses eventos são gigantes. Nós temos um centro de exposições lindo aqui com 10 mil metros quadrados e diversas arenas que às vezes parece que você está no Texas”, brinca o professor José Fernando Garcia, que atualmente é chefe do DAPSA (Departamento de Produção e Saúde Animal).
Para ele, essa é uma oportunidade muito bacana para os alunos, que podem participar ativamente de toda essa organização.
A oportunidade de aprendizado fora dos muros da faculdade é valorizada também pela professora Valéria Marçal Felix de Lima, atual vice-chefe do DCCRA (Departamento de Clínica, Cirurgia e Reprodução Animal. “A gente observa que sempre tem um grupo de alunos que participa dos eventos promovidos pela associação. É uma oportunidade de aprender na prática, por exemplo, sobre a saúde dos equinos”, comenta.
Desafios
Para alunos, professores e toda a comunidade universitária, os últimos anos foram difíceis. As medidas de segurança sanitária durante a pandemia de covid-19 obrigaram a FMVA a suspender as aulas presenciais.
Isso dificultou bastante a dinâmica de um curso como a Medicina Veterinária, em que a prática em campo e o contato com os animais é essencial. Nesse sentido, os últimos dois anos têm sido um momento de retomada da vivência universitária.
O atual diretor da instituição, professor Cecílio Viega Soares Filho, pondera que os estudantes estão sendo atraídos novamente para a vida acadêmica neste período pós-pandêmico. “Estamos trazendo esse aluno de volta para os laboratórios, para as pesquisas", destaca.
O entusiasmo no câmpus é visível e se reflete nos números da faculdade, que tem evasão quase nula dos 60 discentes aprovados todos os anos. “Nós temos um ponto forte que é a qualidade do nosso ensino. Nós sempre investimos nisso”, afirma o diretor.
Qualidade de ensino
A qualidade do ensino mencionada pelo diretor se estende também para a pós-graduação lato e stricto sensu. A FMVA oferece programas de mestrado e doutorado na área de Ciência Animal que na última avaliação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) obteve o conceito 5, concedido a cursos que atingiram a excelência na área de conhecimento em que atuam.
Por meio da pós-graduação, a faculdade desenvolve um forte programa de internacionalização, que contempla a recepção e o envio de estudantes para outros países, como Itália e França, além de colaborações de professores com instituições de ensino internacionais em projetos acadêmicos e científicos.
Em breve, essa qualidade no ensino deverá receber um impulso importante com a conclusão das obras da fazenda experimental. A nova estrutura já foi montada e atualmente está recebendo os equipamentos. Quando estiver em pleno funcionamento, os professores acreditam que ela vai dar um respaldo ainda maior na formação dos futuros médicos veterinários.
Mercado de trabalho
A professora Valéria Marçal Felix de Lima explica que o foco na qualidade do ensino da FMVA tem formado um profissional muito requisitado pelo mercado de trabalho.
A docente afirma que os egressos que se formam no curso de medicina veterinária têm atuado em grandes laboratórios, clínicas e fazendas, e muitos também têm demonstrado plena capacidade para o empreendedorismo.
“Muitos destes ex-alunos hoje estão em cargos importantes de direção em empresas e aplicando os conhecimentos adquiridos na faculdade, realizando transferência de embriões e inseminação artificial, por exemplo”, afirma.
Segundo Valéria, o destino dos egressos é variado, com profissionais atuando como docentes em outras universidades, em centros de pesquisa e órgãos do governo.
Pesquisa
A Unesp é a segunda universidade do país que mais publica artigos científicos e a FMVA é um dos expoentes neste cenário. Uma das frentes de pesquisa de maior destaque na instituição é a genética e a genômica de bovinos, foco de estudo do professor José Fernando Garcia.
A área estuda os genes, o DNA e a hereditariedade em bovinos com o intuito de melhorar características produtivas, reprodutivas ou de resistência a doenças, por exemplo.
Ao longo dos últimos anos, o professor participou da fundação de três empresas de biotecnologia no Brasil, que atuam principalmente em genômica aplicada a animais, plantas e humanos.
“Hoje, eu olho para essas empresas e vejo que elas conseguiram trazer a ciência para a prática. Muitos que estão nessas empresas passaram pela FMVA em algum momento e eu me sinto orgulhoso quando penso que eu ajudei a realizar esses projetos”, afirma o docente, que acrescenta: “E isso é algo que acontece em todas as áreas da faculdade”.
Neste sentido, estimular o estudante a se engajar em projetos de pesquisa ainda na graduação pode render frutos importantes ao longo da trajetória acadêmica. “A iniciação científica é algo muito importante porque é a oportunidade de os alunos começarem a ter essa experiência em pesquisa, que é transformadora. Essa produção científica tanto na graduação quanto na pós-graduação é o que diferencia a nossa universidade”, afirma Garcia.
FMVA tem contribuição importante nas pesquisas sobre leishmaniose
A FMVA também tem uma importante contribuição no que se conhece hoje sobre a leishmaniose, uma doença infecciosa não contagiosa causada por protozoários e transmitida por insetos que se alimentam de sangue, com o mosquito-palha.
Embora a doença possa afetar humanos e animais de produção, as principais vítimas são os animais domésticos, como o cão ou o gato. Nesse sentido, as principais contribuições da FMVA para o combate da doença estão relacionadas à descoberta de vacinas e ao desenvolvimento dos tratamentos.
“A leishmaniose é uma doença que tem ocorrência antiga na região. Araçatuba é uma cidade em que a doença é endêmica. Por enquanto, infelizmente, ela chegou na nossa região para ficar, mas a faculdade tem sido um polo importante de estudo desde a identificação do primeiro caso, ainda em 1998”, explica Valéria Marçal Felix de Lima.
O professor José Fernando Garcia destaca ainda outro tema da ciência em que as pesquisas da faculdade têm trazido contribuições expressivas: o botulismo.
A doença é causada pelos efeitos da toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, que pode ser encontrada na ração de animais ou quando estes ingerem alimentos de má qualidade. Em casos mais agudos, a doença pode levar à perda de rebanhos, e por isso recebem a atenção dos pesquisadores da FMVA.
Celeiro de novas tecnologias
Abrigar pesquisas de ponta, além de trazer uma importante contribuição para a comunidade, é um estímulo para que a faculdade se torne um celeiro de novas tecnologias.
“Para se chegar a uma vacina é preciso antes entender a célula, a proteína e outras estruturas microscópicas. Você vai batendo a cabeça como em um labirinto escuro e quando vê, já se passaram dez anos. Pode parecer frustrante, mas essa é uma condição normal para quem está envolvido com ciência”, afirma Garcia.
“Essa busca pela descoberta exige tempo e acaba nos empurrando para fazer a pesquisa básica, aquele tipo de pesquisa que é feita antes de se chegar a uma descoberta”, acrescenta.
Atendimento à comunidade
Além do ensino e da pesquisa, a Unesp também se destaca pela extensão, ou seja, na transmissão direta do conhecimento produzido na Universidade para a comunidade, e na FMVA não é diferente.
Um dos principais projetos de extensão é o Hospital Veterinário Luiz Quintiliano de Oliveira, que além de realizar uma série de atendimentos aos animais também oferece suporte à Prefeitura, por meio de parceria, realizando testes de zoonoses.
Um ponto de destaque da estrutura, explica o diretor da FMVA, é oferecer um preço acessível aliado à qualidade do atendimento. “O Hospital Veterinário funciona com um custo mínimo, de manutenção. O cliente só é cobrado se fizer algum exame ou procedimento além do atendimento, mas mesmo assim, nossos valores são bem inferiores ao que é praticado no mercado”, explica o professor.
Para o futuro, a expectativa é que o surgimento de outros programas de extensão aproximem ainda mais a FMVA da comunidade. Recentemente, a extensão foi incluída na grade curricular de todos os cursos da Unesp, o que deve ampliar ainda mais a atuação da Universidade nesta área.