"Quando nasce um bebê prematuro, ele precisa de todo o suporte para sobreviver, especialmente se for um prematuro extremo. Nosso desafio começa aí, mas poderia ser evitado com um cuidado adequado durante a gestação". É assim que o professor doutor Anderson Dutra, responsável técnico pelo Serviço de Neonatologia Intensiva da Santa Casa de Araçatuba (SP), define a importância do exame pré-natal.
Ele faz o alerta neste Dia Mundial da Prematuridade, 17 de novembro, para destacar a expressiva taxa de nascimentos de bebês prematuros, muitos dos quais em prematuridade extrema, ou seja, bebês que nascem antes de 28 semanas de idade gestacional.
Entram nessa estatística crianças que nascem pensando menos de 1 quilo e dependem da excelência médica e demais profissionais multidisciplinares e de estrutura tecnológica avançada, até para aprenderem a respirar.
Segundo o especialista, muitos desses casos poderiam ser prevenidos se as gestantes recebessem mais atenção durante a gravidez, com os pré-natais recomendados pelos órgãos de Saúde. O acompanhamento médico que as gestantes realizam ao longo da gravidez é fundamental para monitorar o desenvolvimento do bebê e garantir a saúde da mãe. Ele é um dos pilares para garantir uma gestação saudável e um parto tranquilo.
Aumento
Ainda de acordo com o especialista, o ideal seria que todas as gestações chegassem a termo, mas está ocorrendo um número crescente de nascimentos prematuros por falta de cuidados adequados nas fases iniciais da gravidez. "A imaturidade do organismo torna cada dia de vida um desafio. Muitos ficam internados por mais de 50 dias e enfrentam riscos significativos de sequelas futuras", alerta.
A Santa Casa realiza em média de 170 a 200 partos por mês, sendo que entre 18% a 20% são de bebês prematuros. O índice de prematuridade extrema, quando a criança nasce com menos de 28 semanas, atinge cerca de 8% dos casos. O número é considerado preocupante e exige atenção redobrada dos serviços de saúde pública na região.
Alto risco
As altas taxas de nascimentos prematuros registradas na Santa Casa de Araçatuba também estão associadas aos partos decorrentes de gestações de alto risco. O hospital é referência desta especialidade para os 40 municípios da região.
São consideradas gestação de alto risco aquelas em que a saúde ou a vida da mãe, do feto ou do recém-nascido têm um maior risco de serem afetadas do que a média da população, em função de vários fatores.
No perfil dos atendimentos prestados pela Santa Casa de Araçatuba, destacam-se comorbidades anteriores ou adquiridas no período gestacional e gravidez tardia ou precoce.
Importância do pré-natal de qualidade
Dutra explica que um dos principais problemas que causa a prematuridade é a falta de atenção primária adequada. De acordo com ele, muitas gestantes não têm acesso ao número ideal de consultas de pré-natal ou são acompanhadas por profissionais que não estão suficientemente preparados para identificar os riscos de um parto prematuro.
Segundo o especialista, o pré-natal é a principal ferramenta para prevenir a prematuridade. “Cada gestante deveria ter pelo menos seis consultas durante a gravidez, realizadas por ginecologistas e obstetras", informa.
Por isso, ele defende o fortalecimento dos cuidados primários nas cidades atendidas pelo hospital. “Com uma atenção adequada desde o início, poderíamos evitar muitas complicações”, acrescentando que hoje há bebês que nascem com menos de 1 quilo, resultando em chances maiores de sequelas pulmonares e neurológicas. “Precisamos mudar isso”, afirma.
Dutra explica que a Santa Casa possui neonatologistas especializados, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e cirurgiões pediátricos que acompanham cada caso, mas reforça que o ideal seria que esses bebês não precisassem passar por esse tipo de situação, o que depende do acompanhamento gestacional.
Desafio coletivo
No Dia Mundial da Prematuridade, o especialista destaca que prevenir é a melhor forma de cuidar, o que depende de investimentos em educação e uma mudança na forma como os municípios da região tratam a saúde das gestantes.
"As prefeituras precisam garantir que as mulheres tenham acesso ao pré-natal de qualidade logo que descobrem a gravidez. Isso é um trabalho coletivo, que envolve a educação e a sensibilização das equipes de saúde para identificar e tratar os casos de risco precocemente", reforça.
Ele afirma que o trabalho da Santa Casa é garantir que os bebês prematuros tenham o suporte necessário para crescerem saudáveis e que o hospital tem investido em tecnologia e capacitação para acompanhar as necessidades específicas de cada caso, reforçando o compromisso com a vida e com o futuro dessas crianças.
“Investir no pré-natal é investir na vida. O futuro desses bebês e de muitas famílias depende de um cuidado preventivo e de ações coordenadas para reduzir os índices de prematuridade extrema”, finaliza.