Cotidiano

Parada para revisão

"É tempo de reorganizar a vida, cuidar do meu próprio coração para não estar entre aqueles que, apesar de ganharem o mundo, acabaram por perder a própria alma"
Da Redação
21/08/2023 às 08h56
Ouvir:

“Os primeiros quarenta anos de vida nos dão o texto; os trinta seguintes, o comentário”. (Arthur
Schopenhauer)

 

Estou vivendo justamente a fase dos comentários. Não foram poucas as vezes que me flagrei fazendo uma reflexão acerca de minha vida e história. Nela sempre identifiquei os sonhos e as ilusões e, principalmente, as inúmeras frustrações. Lembro-me das poucas, porém, boas gargalhadas, bem como das diversas lágrimas derramadas.

 

Ao longo do tempo, conheci várias pessoas, quase todas me marcaram (positivamente e negativamente). Outras tantas se foram, mas deixaram palavras e imagens no meu coração.


Como qualquer adolescente e jovem, nutri muitos sonhos, tracei muitos planos, porém, o tempo e a maturidade, aos poucos foram dando conta de dissipar os inatingíveis e manter os acessíveis.

 

Vejo como saudáveis e necessárias essas paradas para uma revisão. A caminhada e principalmente a estrada da vida causam danos, que se não consertados, podem se tornar irreversíveis (me lembrando agora que meu carro já rodou 160.000 Km).

 

Essas reflexões sistemáticas (não tanto programadas) nos ajudam a escolher que tipo de pessoa quero continuar sendo ou deixar de ser: aquela que já perdeu a capacidade de sonhar e cansou de esperar, apenas admitindo que “as coisas são como são” ou aquela que ainda sonha com a vida como jamais foi e, por isso, seguem perguntando: “Por que as coisas não podem ser o que ainda não são?”.

 

Essa revisão de vida me faz enxergar que envelheci (essa é uma admissão ruim para os likes). Não sou mais capaz de passar uma noite sem dormir (embora atravesso muitas por conta do trabalho), sem sentir-me cansado e com dor de cabeça no dia seguinte. Não consigo comer de tudo no jantar sem ter uma indisposição durante a noite. Não sou mais capaz de jogar futebol de manhã e voltar a jogar à tarde no mesmo dia. Não consigo mais ouvir discursos, sermões e noticiários inflamados, sem fazer as devidas ponderações e críticas. Não aceito abraçar todas as propostas, sem antes olhar minha agenda e considerar os riscos existentes.

 

Por todas essas conclusões, é imprescindível escolher as batalhas que valem a pena serem travadas, aprender com a alegria daqueles que completam uma maratona sem necessariamente estarem no pódio (a vida nunca foi uma corrida de 100 metros rasos).

 

É tempo de reorganizar a vida, cuidar do meu próprio coração para não estar entre aqueles que, apesar de ganharem o mundo, acabaram por perder a própria alma.

 

William Shakespeare disse: “Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos”.

 

Hoje, me sinto tomado pelo sentimento daquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, agora rói até o caroço.

Entre no grupo do Whatsapp
Logo Trio Copyright © 2024 Trio Agência de Notícias. Todos os direitos reservados.