Medicina de emergência: a arte de salvar vidas

Nos últimos meses, Araçatuba (SP) registrou vários casos graves de acidentes de trânsito, principalmente envolvendo motociclistas, e também, vários casos de tentativa de homicídio. Muitas das vítimas envolvidas nessas ocorrências contaram com os serviços de emergência do pronto-socorro da Santa Casa, que é um centro de trauma com a especialidade de medicina de emergência, referência para os 40 municípios da área do DRS-2 (Departamento Regional de Saúde).

Para conhecer um pouco do trabalho que é realizado pelos profissionais que prestam esse serviço, a reportagem esteve no pronto-socorro e foi recebida pelo coordenador na unidade, o médico Silvio Bianco, que é especialista em medicina de emergência e em emergência pediátrica, além de ser professor no curso de medicina do Unisalesiano.

Formado há 16 anos, ele conta que mesmo antes ser médico, já era encantado pela medicina de emergência, por ser onde se salva vidas de fato. "A gente fala que são os 15 minutos mais bonitos de todas as especialidades”, comenta.

O médico acrescenta que é na medicina de emergência que as coisas acontecem de fato, onde se atende os casos mais graves e é quando se atende a pessoa quando ela realmente precisa. “Todo mundo um dia provavelmente vai precisar de uma sala de emergência ou vai estar com alguém dentro de uma sala de emergência. E é muito importante saber que a gente pode ajudar de maneira efetiva essas pessoas”, diz.

Traumas

Segundo Silvio, os principais casos atendidos no pronto-socorro da Santa Casa de Araçatuba são vítimas de infartos, AVC (Acidente Vascular Cerebral) e traumas, na mesma proporção. Entre os traumas estão vítimas de acidentes de trânsito, de quedas e também de tentativas de homicídio.

Apenas os casos mais graves é que são direcionados para o pronto-socorro da Santa Casa, pois os considerados menos graves, são encaminhados inicialmente para o pronto-socorro municipal.

Para atender as urgências e emergências, a unidade da Santa Casa conta com dois médicos plantonistas por turno, além do médico coordenador, mais a equipe de enfermagem. Se a ocorrência envolver crianças, o atendimento é feito com apoio do médico pediatra.

O médico explica que a demanda é crescente e variável, pois nunca se sabe quando haverá acidentes ao mesmo tempo, mas quando os pacientes chegam, a equipe faz de tudo para atender.

“É uma demanda sem logística, não tem como planejar quantos pacientes vítimas de acidente vamos ter. O trauma é muito complicado, pois são pacientes jovens, com expectativa grande, são atendimentos muito delicados, onde o médico tem que se empenhar de maneira muita efetiva", explica.

Rede

Ainda de acordo com o médico, o tratamento eficiente, com maiores chances de sobrevivência, tem início no primeiro atendimento prestado ao paciente, ainda no local onde ocorreu o acidente ou outro tipo de trauma.

Por isso, a unidade conta com a retaguarda dos serviços de resgate, feito pelo Corpo de Bombeiros, que atualmente conta com médico da equipe do Grau (Grupo de Resgate e Atendimento a Urgências) em Araçatuba, e do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

O médico explica que o tempo desse atendimento pré-hospitalar primário é de 8 minutos, em média, mas depende do deslocamento até o local de atendimento e do número de chamados ao mesmo tempo.

As equipes do Grau ou do Samu, ao chegarem no local da ocorrência, tentam estabilizar o paciente para que ele tenha condições de ser transportado até à sala de emergência. "As equipes de resgate têm condições de fazer a estabilização, porém, em dificuldade maior e a gente precisa estar pronto para recebê-las", comenta.

Linha direta

Para isso, foi instalado um telefone no pronto-socorro, que é utilizado apenas pelas equipes de emergência. Quando o caso é grave, a equipe do pré-atendimento já entra em contato, passando informações que servem para orientar as equipes médicas que estarão de prontidão para receber o paciente, com o suporte necessário.

Isso vale para os casos de trauma, onde se informa que o paciente irá precisar de sangue ou atendimento de alguma especialidade. “Por exemplo, quando é um caso de AVC e eles avisam, a neurologia já fica de sobreaviso. Para pacientes com infarto, há o Serviço de Hemodinâmica de prontidão 24 horas, com UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Coronariana com resposta imediata", informa.

Estabilização

Ao dar entrada no pronto-socorro, o paciente é imediatamente encaminhado para Sala de Emergência, onde passa pelo período de estabilização. "Se a gente achar necessário, pede avaliação das especialidades, que respondem de acordo com a urgência do paciente", explica.

As equipes seguem o protocolo ATLS (Suporte Avançado de Vida no Trauma), que preconiza a atuação nas intercorrências que mais matam para as que menos matam. A obstrução de via área, por exemplo, mata de forma rápida, colocando em risco a vida do paciente. Por isso, a equipe age para desobstrução primeiro, para depois decidir sobre os procedimentos relacionados às lesões.

"Se tem sangramento estanca, se tem rebaixamento do nível de consciência é intubado, faz drenagem do tórax, se necessário. Estabilização é dar condições de ele ficar vivo e ter condições de ter um tratamento”, reforça.

Ainda de acordo com o médico, há casos em que não há condições de o paciente ser enviado para exames, demandando primeiro essa estabilização, antes dos procedimentos. Por isso, não há um prazo previsto para que ele seja encaminhado para os exames.

Suporte

A unidade conta com a retaguarda de várias especialidades que são oferecidas pela Santa Casa, entre elas cirurgia geral, ortopedia e traumatologia, neurologia, bucomaxilo, cardiologia e cirurgia pediátrica. Há ainda o Serviço de Radiologia, responsável pelos exames que são fundamentais para auxiliar nos diagnósticos.

Apesar de não haver estatísticas por parte do hospital, o médico informa que em outubro houve um aumento expressivo no número de atendimentos a pacientes com traumas graves, principalmente vítimas de acidentes envolvendo motos. “Infelizmente moto é um veículo que causa um risco maior e geralmente são os acidentes mais graves”, alerta. 

De acordo com ele, quase 100% dos pacientes atendidos no pronto-socorro da Santa Casa em decorrências desses acidentes precisam de um atendimento especializado, ou de ortopedia, ou de cirurgia geral.  “E faz muita diferença ter uma ortopedia de alta complexidade, ter uma cirurgia geral de prontidão, ter um banco de sangue e uma radiologia efetivas", reforça.

Segundo Silvio, muitos casos demandam cirurgia de crânio e cirurgia toráxica, e as equipes de emergência precisam estabilizar o paciente e dar condições dessas especialidades trabalharem. “Isso faz muita diferença para a comunidade. Ter um centro de referência de trauma na Santa Casa hoje, para nossa região, faz muita diferença no índice de mortalidade e no bom atendimento aos pacientes", declara.

Recuperação

Após passar pelos procedimentos de emergência, a UTI é o local onde os pacientes irão permanecer o período necessário para recuperação. De acordo com o coordenador do pronto-socorro, quando não há vaga em UTI, o paciente pode passar por procedimento cirúrgico e retornar ao pronto-socorro, que conta com estrutura para dar o suporte necessário até que seja liberada uma vaga de UTI.

Por fim, o médico comenta que a medicina de emergência é uma especialidade nova, que precisa ser treinada. "E esse é o nosso objetivo, atender com excelência", afirma.

Há um projeto para duplicar a estrutura do pronto-socorro da Santa Casa, em parceria com o Unisalesiano. A planta para essa ampliação está pronta e o serviço pode ser feito sem interromper o atendimento. Porém, não há previsão de data para que esse projeto seja colocado em prática.